Wednesday, February 16, 2011
LXXIII - (Re) leituras -- Orientalism, de Edward Saïd, por André Bandeira
Reli este livro, passado seis anos e ganhei. Edward Saïd, teve a ideia e fundou, com Daniel Baremboim, uma orquestra que educa jovens judeus e jovens palestinianos, na Música. Saïd já não está entre nós, mas os Anjos ainda comunicam em música. «Orientalismo», publicada em 78 e pós-faciada em 1994 é a grande tentativa de um palestiniano, especialista em literatura ocidental, nomeadamente política e antropológica, contrariar os democratas neo-colonialistas como Bernard Lewis. Não é conseguida. Saïd prova que o orientalismo é uma literatura generalista do Ocidente, lida por ocidentais, para justificar o imperialismo sobre o Médio-Oriente, começando pelo Egipto. Realmente, os monólogos mais ou menos loucos, mas aterradores, de um Nerval, de um Flaubert, de um Chateaubriand, de um Renan, de um Sacy, de um E.W. Lane, ou de um «Lawrence da Arábia», convenceram o Ocidente de que os árabes são sensuais, preguiçosos, traidores e déspotas. E, alguns dos escritores citados, são honestos e neutros (só que os olhos do escritor são míopes). Os árabes «são selvagens que não riem», os árabes não tiveram Iluminismo, não separaram a Igreja do Estado (pois, nós dissolvemo-la no Estado). Ora bem: comecemos por Newton. Afinal Newton era alquimista e o seu cadáver tinha mais chumbo que um imperador romano bêbedo, morto com delirium tremuris. Mas não interessa, tudo isso passou, o Iraque foi invadido e a «rua árabe» revolta-se espontâneamente, dizem. Por fim, Saïd encontra uma solução para nos ensinar a música dos anjos: façam como Historiadora irlandesa Mary Ferguson, sobre a escravatura negra. As mulheres americanas eram muito mais verdadeiras sobre a escravatura, que os homens. Em suma: junta-se uma minoria (as mulheres), com uma minoria (os árabes desprezados) sobre uma minoria massacrada (os escravos) e obtém-se uma fenda na muralha do racismo. Tudo isto é um monólogo de um palestiniano muçulmano, respeitado e civilizado ao modo de Londres e Harvard. Pode ser esse o mal das derrapagens duma Democracia para o totalitarismo: quando um novo facto não é regular, muda-se a Lei, até o relativo ser tão relativo que a realidade é uma vertigem e a Lei se torna um mero instrumento. É cómico ouvirem-se agora discursos contra o multiculturalismo, não porque venham demasiado tarde, mas porque vêm de pessoas pouco cultas. Uma Cultura serve propósitos não-culturais, alguns deles chamados de existenciais, ou de biológicos, outros, direi, insondáveis. O primeiro passo da Cultura é o sentido da humildade e do limite, mesmo do limite do limite. Se se começar por aí, a explosão democrática de forças externas, na Arabia Infelix, talvez nos faça entender que não somos, nem nunca fomos Ocidente, mas somos Oceano. Mar sem fim, como em Fernando Pessoa, contra o Mar fechado dos Impérios.
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