Ouvi, no podium e do outro lado da mesa, Manoel de Oliveira. Foi engraçado ver alguém da mesma cidade onde nasci e em que renasci ao ver o seu filme «Porto da minha Infância». O seu discurso de agradecimento ao Doutoramento honoris causa não foi uma oração de sapiência mas serve de testemunho ao que fica dos olhos de um homem que viveu 100 anos e que viu as coisas de um modo que não nos esqueceremos tão cedo.
Manoel de Oliveira fala de um plano em que o centro de gravidade não é, certamente, aquele que ocupa o nosso plano de visão, todos os dias. Começou por abordar a sua comunicação, dizendo que admira mais os santos do que os revolucionários e acrescentou que há uma diferença entre a guerra e o terrorismo, pois o terrorista mata covardemente.
Constata que o progresso nos leva a situações catastróficas mas acrescenta que o homem ama as situações de perigo, embora se deixe dominar pelo pânico. Evocou Lincoln, Thomas Moro e Ghandi como modelos.
No limiar em que se encontra, considerou que a eternidade é uma ideia que o atrapalha. Se o Mundo começou a existir com o Big Bang, o que existia antes? Por isso, considerou que toda a ética se funda nas religiões.
Perguntou-se também se o gesto dos financeiros de Wall Street, não teria sido um gesto utópico. Notou que atravessamos uma crise moral e perguntou-se se um castigo assim não seria pelo Mundo se ter tornado em Sodoma e Gomorra.
No fim de tudo, a dúvida vive sempre ao lado da Esperança e citou S.Paulo para dizer que, se Cristo não ressuscitou, toda a Fé é vã.
Mas o pessimismo é a conclusão do optimista. A bondade da Natureza falha na sua também extrema crueldade.
Por fim citou o seu colega David Kronenberg para dizer que «todo o homem é um cientista louco e a vida o seu laboratório».
Thursday, December 17, 2009
II – Audições: Manoel de Oliveira em Belo Horizonte – por André Bandeira
Ouvi, no podium e do outro lado da mesa, Manoel de Oliveira. Foi engraçado ver alguém da mesma cidade onde nasci e em que renasci ao ver o seu filme «Porto da minha Infância». O seu discurso de agradecimento ao Doutoramento honoris causa não foi uma oração de sapiência mas serve de testemunho ao que fica dos olhos de um homem que viveu 100 anos e que viu as coisas de um modo que não nos esqueceremos tão cedo.
Manoel de Oliveira fala de um plano em que o centro de gravidade não é, certamente, aquele que ocupa o nosso plano de visão, todos os dias. Começou por abordar a sua comunicação, dizendo que admira mais os santos do que os revolucionários e acrescentou que há uma diferença entre a guerra e o terrorismo, pois o terrorista mata covardemente.
Constata que o progresso nos leva a situações catastróficas mas acrescenta que o homem ama as situações de perigo, embora se deixe dominar pelo pânico. Evocou Lincoln, Thomas Moro e Ghandi como modelos.
No limiar em que se encontra, considerou que a eternidade é uma ideia que o atrapalha. Se o Mundo começou a existir com o Big Bang, o que existia antes? Por isso, considerou que toda a ética se funda nas religiões.
Perguntou-se também se o gesto dos financeiros de Wall Street, não teria sido um gesto utópico. Notou que atravessamos uma crise moral e perguntou-se se um castigo assim não seria pelo Mundo se ter tornado em Sodoma e Gomorra.
No fim de tudo, a dúvida vive sempre ao lado da Esperança e citou S.Paulo para dizer que, se Cristo não ressuscitou, toda a Fé é vã.
Mas o pessimismo é a conclusão do optimista. A bondade da Natureza falha na sua também extrema crueldade.
Por fim citou o seu colega David Kronenberg para dizer que «todo o homem é um cientista louco e a vida o seu laboratório».
Manoel de Oliveira fala de um plano em que o centro de gravidade não é, certamente, aquele que ocupa o nosso plano de visão, todos os dias. Começou por abordar a sua comunicação, dizendo que admira mais os santos do que os revolucionários e acrescentou que há uma diferença entre a guerra e o terrorismo, pois o terrorista mata covardemente.
Constata que o progresso nos leva a situações catastróficas mas acrescenta que o homem ama as situações de perigo, embora se deixe dominar pelo pânico. Evocou Lincoln, Thomas Moro e Ghandi como modelos.
No limiar em que se encontra, considerou que a eternidade é uma ideia que o atrapalha. Se o Mundo começou a existir com o Big Bang, o que existia antes? Por isso, considerou que toda a ética se funda nas religiões.
Perguntou-se também se o gesto dos financeiros de Wall Street, não teria sido um gesto utópico. Notou que atravessamos uma crise moral e perguntou-se se um castigo assim não seria pelo Mundo se ter tornado em Sodoma e Gomorra.
No fim de tudo, a dúvida vive sempre ao lado da Esperança e citou S.Paulo para dizer que, se Cristo não ressuscitou, toda a Fé é vã.
Mas o pessimismo é a conclusão do optimista. A bondade da Natureza falha na sua também extrema crueldade.
Por fim citou o seu colega David Kronenberg para dizer que «todo o homem é um cientista louco e a vida o seu laboratório».
Wednesday, December 9, 2009
Tuesday, December 1, 2009
1 de Dezembro - por André Bandeira
No Primeiro de Dezembro, recordo a independência de Portugal. Sim, a independência. Durante muito tempo, imaginei-o como um acto de coragem de um punhado de portugueses que atacou o centro da ocupação castelhana antes que esta pudesse reagir. Tudo recomeçara ali. A guerra demoraria 28 anos. Não estou crente que, se o Conde-Duque de Olivares tivesse optado por reprimir Portugal, em vez de reprimir a Catalunha, que Portugal não moveria a mesma resistência. Portugal foi sempre um projecto extra-europeu. Em 1648 e 1649, nas duas batalhas de Guararapes, os portugueses do Brasil, expulsaram os holandeses que poderiam, a partir do Recife e Pernambuco, ter iniciado um Brasil inteiramente diferente.Em 1959, os holandeses partiram definitivamente, derrotados pela gente de um português do Brasil, Vidal de Negreiros, de um índio, Felipe Camarão e de um comandante negro, Henriques Dias. Henrique Dias não foi um santo. Jogou com os seus interesses, serviu-se da liberdade de muitos escravos mas usou a escravatura de outros. Foi um comandante notável duma gente notável.Sem a batalha de Guararapes e sem o Império do Brasil, Portugal não teria crédito, no continente, para comprar armas a França e reagir contra Espanha.
Portugal deve a sua independência também à batalha de Guararapes. Não há uma única estátua a Henrique Dias ou a Felipe Camarão, numa praça de Portugal.
Henrique Dias era negro. Foi-lhe prometida uma comenda. Nunca lha deram. Tentou viajar a Lisboa para a reivindicar. Viajou mas não lha deram.
Morreu pobre e ignorado.
Enquanto Portugal não honrar aquilo que foi universal, recusando-o como «História», Portugal ver-se-á a morrer, todos os dias, à frente dos seus próprios olhos.Talvez num quilombo perdido do Brasil, a campa rasa de portugueses negros esperem ainda o que lhes é devido. E talvez assim, Portugal se reconcilie consigo próprio e não se deixe sangrar, imparavelmente, todos os dias.
Portugal deve a sua independência também à batalha de Guararapes. Não há uma única estátua a Henrique Dias ou a Felipe Camarão, numa praça de Portugal.
Henrique Dias era negro. Foi-lhe prometida uma comenda. Nunca lha deram. Tentou viajar a Lisboa para a reivindicar. Viajou mas não lha deram.
Morreu pobre e ignorado.
Enquanto Portugal não honrar aquilo que foi universal, recusando-o como «História», Portugal ver-se-á a morrer, todos os dias, à frente dos seus próprios olhos.Talvez num quilombo perdido do Brasil, a campa rasa de portugueses negros esperem ainda o que lhes é devido. E talvez assim, Portugal se reconcilie consigo próprio e não se deixe sangrar, imparavelmente, todos os dias.
1 de Dezembro - por André Bandeira
No Primeiro de Dezembro, recordo a independência de Portugal. Sim, a independência. Durante muito tempo, imaginei-o como um acto de coragem de um punhado de portugueses que atacou o centro da ocupação castelhana antes que esta pudesse reagir. Tudo recomeçara ali. A guerra demoraria 28 anos. Não estou crente que, se o Conde-Duque de Olivares tivesse optado por reprimir Portugal, em vez de reprimir a Catalunha, que Portugal não moveria a mesma resistência. Portugal foi sempre um projecto extra-europeu. Em 1648 e 1649, nas duas batalhas de Guararapes, os portugueses do Brasil, expulsaram os holandeses que poderiam, a partir do Recife e Pernambuco, ter iniciado um Brasil inteiramente diferente.Em 1959, os holandeses partiram definitivamente, derrotados pela gente de um português do Brasil, Vidal de Negreiros, de um índio, Felipe Camarão e de um comandante negro, Henriques Dias. Henrique Dias não foi um santo. Jogou com os seus interesses, serviu-se da liberdade de muitos escravos mas usou a escravatura de outros. Foi um comandante notável duma gente notável.Sem a batalha de Guararapes e sem o Império do Brasil, Portugal não teria crédito, no continente, para comprar armas a França e reagir contra Espanha.
Portugal deve a sua independência também à batalha de Guararapes. Não há uma única estátua a Henrique Dias ou a Felipe Camarão, numa praça de Portugal.
Henrique Dias era negro. Foi-lhe prometida uma comenda. Nunca lha deram. Tentou viajar a Lisboa para a reivindicar. Viajou mas não lha deram.
Morreu pobre e ignorado.
Enquanto Portugal não honrar aquilo que foi universal, recusando-o como «História», Portugal ver-se-á a morrer, todos os dias, à frente dos seus próprios olhos.Talvez num quilombo perdido do Brasil, a campa rasa de portugueses negros esperem ainda o que lhes é devido. E talvez assim, Portugal se reconcilie consigo próprio e não se deixe sangrar, imparavelmente, todos os dias.
Portugal deve a sua independência também à batalha de Guararapes. Não há uma única estátua a Henrique Dias ou a Felipe Camarão, numa praça de Portugal.
Henrique Dias era negro. Foi-lhe prometida uma comenda. Nunca lha deram. Tentou viajar a Lisboa para a reivindicar. Viajou mas não lha deram.
Morreu pobre e ignorado.
Enquanto Portugal não honrar aquilo que foi universal, recusando-o como «História», Portugal ver-se-á a morrer, todos os dias, à frente dos seus próprios olhos.Talvez num quilombo perdido do Brasil, a campa rasa de portugueses negros esperem ainda o que lhes é devido. E talvez assim, Portugal se reconcilie consigo próprio e não se deixe sangrar, imparavelmente, todos os dias.
Wednesday, November 25, 2009
I - Audições: Slavoj Zizek em Hardtalk, da BBC, por André Bandeira
Depois de o ouvir, uma ou duas vezes, este filósofo da moda deixa-me desesperado.Diz que o comunismo é a solução para o capitalismo em que vivemos. E o entrevistador ainda parece mais desesperado do que ele. Enfim, esta entrevista em que Zizek já vinha preparado para uma «luta», é uma agressão ao telespectador. Porque é que este esloveno consagrado aceitou? Talvez porque os Conservadores vão ganhar em Inglaterra com um programa de esquerda e uma honestidade de conservadores. Tony Blair tinha um programa individualista próximo da histeria e, claro, o blairismo foi uma aldrabice. David Cameron virá com um programa de Esquerda que resvalará para a Direita e ficará também desonesto, porque a Inglaterra está condenada ao declínio, muito antes dos EUA e não há ainda uma consciência internacional conservadora. Porque digo isto? Porque uma entrevista de meia-hora a um escritor talentoso como Zizek, é inteiramente manipulada pela situação política decisiva em que se ganham e perdem votos com audições e imagens. Quem manda? A retórica, como massagem psicológica dum cultura de rebanho. Fugir a esta cultura de rebanho, que é já por si um cataclismo, é como fugir da droga.Em suma, Zizek é famoso entre os capitalistas porque escreve bem sobre filmes e pega bem frases no ar, como numa taberna mediterrânica do Sul do Império austríaco, onde os neuróticos de Viena podiam beber uns copos e seduzir umas moças. A isto se reduziu a Esquerda, uma das duas patas do Despotismo iluminado. Não adianta que Zizek diga que o comunismo foi um falhanço total e que o estalinismo foi pior do que o nazismo. A solução para um mundo de dor e confusão -- por razões que ainda não são muito claras -- é voltar um bocadinho atrás, a um comunismo como rosto humano,diz ele, como quando Zizek "lutava" em manifestações reprimidas suavemente, quando era novo, no «Comunismo» da Jugoslávia. Enfim, daquilo que este mundo malcriado e vulgar ainda não se libertou foi do guru modernaço Karl Marx, caro aos corpos «quentes» de Wall Street e aos corpos «sedutores» da Rive Gauche, o Marx sem concorrentes, adorador do deus dinheiro e que meteu poetas ou artistas a fazerem de filósofos, onde se tornaram em charlatães. Então, se eles forem misturados com jornalistas, temos um filme a falar sozinho, onde Zizek é o garoto loquaz da Democracia, com sessenta anos e o jornalista é o especulador da Bolsa com o emprego em jogo, aos quarenta.
I - Audições: Slavoj Zizek em Hardtalk, da BBC, por André Bandeira
Depois de o ouvir, uma ou duas vezes, este filósofo da moda deixa-me desesperado.Diz que o comunismo é a solução para o capitalismo em que vivemos. E o entrevistador ainda parece mais desesperado do que ele. Enfim, esta entrevista em que Zizek já vinha preparado para uma «luta», é uma agressão ao telespectador. Porque é que este esloveno consagrado aceitou? Talvez porque os Conservadores vão ganhar em Inglaterra com um programa de esquerda e uma honestidade de conservadores. Tony Blair tinha um programa individualista próximo da histeria e, claro, o blairismo foi uma aldrabice. David Cameron virá com um programa de Esquerda que resvalará para a Direita e ficará também desonesto, porque a Inglaterra está condenada ao declínio, muito antes dos EUA e não há ainda uma consciência internacional conservadora. Porque digo isto? Porque uma entrevista de meia-hora a um escritor talentoso como Zizek, é inteiramente manipulada pela situação política decisiva em que se ganham e perdem votos com audições e imagens. Quem manda? A retórica, como massagem psicológica dum cultura de rebanho. Fugir a esta cultura de rebanho, que é já por si um cataclismo, é como fugir da droga.Em suma, Zizek é famoso entre os capitalistas porque escreve bem sobre filmes e pega bem frases no ar, como numa taberna mediterrânica do Sul do Império austríaco, onde os neuróticos de Viena podiam beber uns copos e seduzir umas moças. A isto se reduziu a Esquerda, uma das duas patas do Despotismo iluminado. Não adianta que Zizek diga que o comunismo foi um falhanço total e que o estalinismo foi pior do que o nazismo. A solução para um mundo de dor e confusão -- por razões que ainda não são muito claras -- é voltar um bocadinho atrás, a um comunismo como rosto humano,diz ele, como quando Zizek "lutava" em manifestações reprimidas suavemente, quando era novo, no «Comunismo» da Jugoslávia. Enfim, daquilo que este mundo malcriado e vulgar ainda não se libertou foi do guru modernaço Karl Marx, caro aos corpos «quentes» de Wall Street e aos corpos «sedutores» da Rive Gauche, o Marx sem concorrentes, adorador do deus dinheiro e que meteu poetas ou artistas a fazerem de filósofos, onde se tornaram em charlatães. Então, se eles forem misturados com jornalistas, temos um filme a falar sozinho, onde Zizek é o garoto loquaz da Democracia, com sessenta anos e o jornalista é o especulador da Bolsa com o emprego em jogo, aos quarenta.
Sunday, November 22, 2009
XLVI - (Re)leituras - Anti-cancer, Prévenir et lutter grâce à nos défenses naturelles, de David Servan-Schreiber, por André Bandeira
David Servan-Schreiber surpreende-nos todos os Natais com um bom livro. E dá-nos uma nova concepção ao «best-seller». O livro vende-se bem? Então não é só num romance, destinado a absorver e alhear o leitor da barbárie informativa do dia-a-dia, mas tem de ir para a estante do leitor como uma lista de bons conselhos que se podem consultar caso a caso, ou consultar em geral. Por exemplo, quando ele nos dá, com uma técnica de imagem que já não é livresca, o «prato anti-câncer». Bom… este livro não é (mas pode ser) para hipocondríacos.
Na parte que não pode deixar de ser livro, o autor revela-nos aquilo que só se sabia superficialmente dos livros anteriores. Servan-Schreiber, judeu francês e filho do fundador dum dos Semanários mais importantes da França, o l’Express, obviamente ganancioso pelos EUA (onde é Professor), como todas as elites bonapartistas, depois de ser um jovem e arrogante neurologista, descobre durante uma brincadeira com os colegas, que tem um tumor maligno no cérebro. Quinze anos depois, venceu o tumor, mesmo depois de uma recaída e é sobre as técnicas de sobrevivência bem como de prolongamento da vida, e da busca incontornável do seu sentido, que ele exerceu o seu dever de nos informar. Ele dá muitos exemplos reais e tocantes que nos deixam calados. Pode dizer-se que a dieta mediterrânica é um bom preventivo mas também que a Civilização ocidental, que vem perdendo o domínio no Séc. XXI, deve ser afastada de um regime saudável de vida. Em suma, o modelo protestante anglo-saxónico faz objectivamente mal à saúde ou – como eu interpreto – é uma tal armadilha que, realmente, quem sobrevive nele, é porque travou com sucesso uma batalha bárbara que faria corar qualquer democrata liberal e sorrir de cúmplice a um antropófago. Concedo que Servan-Schreiber, como muitos judeus europeus, quer fugir de um ghetto interior, e que se expôs deliberadamente a todo o orientalismo da romaria norte-americana, com ioga, tai-chi e ecologismo radical. Mas o que ele nos ensina tem de ser ouvido: para sobrevivermos todos os dias, já não bastam os optimismos naturalistas da Europa romântica. É preciso comer e mover-se como um habitante do ghetto de Varsóvia, antes de mais uma levada. Não é paranóia. É a realidade e, neste aspecto, o Povo judeu da diáspora mantém intacta a sua força profética. A Democracia faz mal à saúde mesmo com um Serviço Nacional de Saúde.
Mas que vivemos num tempo de trevas espirituais profundas, parece-me que só uma pessoa acometida por uma doença assim o pode testemunhar. E não adianta proclamar a «Liberdade», que só um doente de cancro, absolutamente inocente, pode dizer-nos o limite de mais essa arrogância. Reduzir o mundo a uma dialéctica Esquerda-Direita é como matar por amor a um Clube de futebol. Mas, também, ver o mundo como Servan-Schreiber o vê, é esquecer o que disse o seu conterrâneo Bichat: « a vida é o conjunto das funções que resistem à morte». Mesmo aquelas que nos dizem que estando qualquer um de nós, morto, a prazo, resta-nos o dever de combater a Morte. Cada um de nós é uma «função de Bichat» e talvez este Natal seja melhor gastar mais em jogging, como os pastores do presépio e menos em camelo, como os Reis magos.
Na parte que não pode deixar de ser livro, o autor revela-nos aquilo que só se sabia superficialmente dos livros anteriores. Servan-Schreiber, judeu francês e filho do fundador dum dos Semanários mais importantes da França, o l’Express, obviamente ganancioso pelos EUA (onde é Professor), como todas as elites bonapartistas, depois de ser um jovem e arrogante neurologista, descobre durante uma brincadeira com os colegas, que tem um tumor maligno no cérebro. Quinze anos depois, venceu o tumor, mesmo depois de uma recaída e é sobre as técnicas de sobrevivência bem como de prolongamento da vida, e da busca incontornável do seu sentido, que ele exerceu o seu dever de nos informar. Ele dá muitos exemplos reais e tocantes que nos deixam calados. Pode dizer-se que a dieta mediterrânica é um bom preventivo mas também que a Civilização ocidental, que vem perdendo o domínio no Séc. XXI, deve ser afastada de um regime saudável de vida. Em suma, o modelo protestante anglo-saxónico faz objectivamente mal à saúde ou – como eu interpreto – é uma tal armadilha que, realmente, quem sobrevive nele, é porque travou com sucesso uma batalha bárbara que faria corar qualquer democrata liberal e sorrir de cúmplice a um antropófago. Concedo que Servan-Schreiber, como muitos judeus europeus, quer fugir de um ghetto interior, e que se expôs deliberadamente a todo o orientalismo da romaria norte-americana, com ioga, tai-chi e ecologismo radical. Mas o que ele nos ensina tem de ser ouvido: para sobrevivermos todos os dias, já não bastam os optimismos naturalistas da Europa romântica. É preciso comer e mover-se como um habitante do ghetto de Varsóvia, antes de mais uma levada. Não é paranóia. É a realidade e, neste aspecto, o Povo judeu da diáspora mantém intacta a sua força profética. A Democracia faz mal à saúde mesmo com um Serviço Nacional de Saúde.
Mas que vivemos num tempo de trevas espirituais profundas, parece-me que só uma pessoa acometida por uma doença assim o pode testemunhar. E não adianta proclamar a «Liberdade», que só um doente de cancro, absolutamente inocente, pode dizer-nos o limite de mais essa arrogância. Reduzir o mundo a uma dialéctica Esquerda-Direita é como matar por amor a um Clube de futebol. Mas, também, ver o mundo como Servan-Schreiber o vê, é esquecer o que disse o seu conterrâneo Bichat: « a vida é o conjunto das funções que resistem à morte». Mesmo aquelas que nos dizem que estando qualquer um de nós, morto, a prazo, resta-nos o dever de combater a Morte. Cada um de nós é uma «função de Bichat» e talvez este Natal seja melhor gastar mais em jogging, como os pastores do presépio e menos em camelo, como os Reis magos.
XLVI - (Re)leituras - Anti-cancer, Prévenir et lutter grâce à nos défenses naturelles, de David Servan-Schreiber, por André Bandeira
David Servan-Schreiber surpreende-nos todos os Natais com um bom livro. E dá-nos uma nova concepção ao «best-seller». O livro vende-se bem? Então não é só num romance, destinado a absorver e alhear o leitor da barbárie informativa do dia-a-dia, mas tem de ir para a estante do leitor como uma lista de bons conselhos que se podem consultar caso a caso, ou consultar em geral. Por exemplo, quando ele nos dá, com uma técnica de imagem que já não é livresca, o «prato anti-câncer». Bom… este livro não é (mas pode ser) para hipocondríacos.
Na parte que não pode deixar de ser livro, o autor revela-nos aquilo que só se sabia superficialmente dos livros anteriores. Servan-Schreiber, judeu francês e filho do fundador dum dos Semanários mais importantes da França, o l’Express, obviamente ganancioso pelos EUA (onde é Professor), como todas as elites bonapartistas, depois de ser um jovem e arrogante neurologista, descobre durante uma brincadeira com os colegas, que tem um tumor maligno no cérebro. Quinze anos depois, venceu o tumor, mesmo depois de uma recaída e é sobre as técnicas de sobrevivência bem como de prolongamento da vida, e da busca incontornável do seu sentido, que ele exerceu o seu dever de nos informar. Ele dá muitos exemplos reais e tocantes que nos deixam calados. Pode dizer-se que a dieta mediterrânica é um bom preventivo mas também que a Civilização ocidental, que vem perdendo o domínio no Séc. XXI, deve ser afastada de um regime saudável de vida. Em suma, o modelo protestante anglo-saxónico faz objectivamente mal à saúde ou – como eu interpreto – é uma tal armadilha que, realmente, quem sobrevive nele, é porque travou com sucesso uma batalha bárbara que faria corar qualquer democrata liberal e sorrir de cúmplice a um antropófago. Concedo que Servan-Schreiber, como muitos judeus europeus, quer fugir de um ghetto interior, e que se expôs deliberadamente a todo o orientalismo da romaria norte-americana, com ioga, tai-chi e ecologismo radical. Mas o que ele nos ensina tem de ser ouvido: para sobrevivermos todos os dias, já não bastam os optimismos naturalistas da Europa romântica. É preciso comer e mover-se como um habitante do ghetto de Varsóvia, antes de mais uma levada. Não é paranóia. É a realidade e, neste aspecto, o Povo judeu da diáspora mantém intacta a sua força profética. A Democracia faz mal à saúde mesmo com um Serviço Nacional de Saúde.
Mas que vivemos num tempo de trevas espirituais profundas, parece-me que só uma pessoa acometida por uma doença assim o pode testemunhar. E não adianta proclamar a «Liberdade», que só um doente de cancro, absolutamente inocente, pode dizer-nos o limite de mais essa arrogância. Reduzir o mundo a uma dialéctica Esquerda-Direita é como matar por amor a um Clube de futebol. Mas, também, ver o mundo como Servan-Schreiber o vê, é esquecer o que disse o seu conterrâneo Bichat: « a vida é o conjunto das funções que resistem à morte». Mesmo aquelas que nos dizem que estando qualquer um de nós, morto, a prazo, resta-nos o dever de combater a Morte. Cada um de nós é uma «função de Bichat» e talvez este Natal seja melhor gastar mais em jogging, como os pastores do presépio e menos em camelo, como os Reis magos.
Na parte que não pode deixar de ser livro, o autor revela-nos aquilo que só se sabia superficialmente dos livros anteriores. Servan-Schreiber, judeu francês e filho do fundador dum dos Semanários mais importantes da França, o l’Express, obviamente ganancioso pelos EUA (onde é Professor), como todas as elites bonapartistas, depois de ser um jovem e arrogante neurologista, descobre durante uma brincadeira com os colegas, que tem um tumor maligno no cérebro. Quinze anos depois, venceu o tumor, mesmo depois de uma recaída e é sobre as técnicas de sobrevivência bem como de prolongamento da vida, e da busca incontornável do seu sentido, que ele exerceu o seu dever de nos informar. Ele dá muitos exemplos reais e tocantes que nos deixam calados. Pode dizer-se que a dieta mediterrânica é um bom preventivo mas também que a Civilização ocidental, que vem perdendo o domínio no Séc. XXI, deve ser afastada de um regime saudável de vida. Em suma, o modelo protestante anglo-saxónico faz objectivamente mal à saúde ou – como eu interpreto – é uma tal armadilha que, realmente, quem sobrevive nele, é porque travou com sucesso uma batalha bárbara que faria corar qualquer democrata liberal e sorrir de cúmplice a um antropófago. Concedo que Servan-Schreiber, como muitos judeus europeus, quer fugir de um ghetto interior, e que se expôs deliberadamente a todo o orientalismo da romaria norte-americana, com ioga, tai-chi e ecologismo radical. Mas o que ele nos ensina tem de ser ouvido: para sobrevivermos todos os dias, já não bastam os optimismos naturalistas da Europa romântica. É preciso comer e mover-se como um habitante do ghetto de Varsóvia, antes de mais uma levada. Não é paranóia. É a realidade e, neste aspecto, o Povo judeu da diáspora mantém intacta a sua força profética. A Democracia faz mal à saúde mesmo com um Serviço Nacional de Saúde.
Mas que vivemos num tempo de trevas espirituais profundas, parece-me que só uma pessoa acometida por uma doença assim o pode testemunhar. E não adianta proclamar a «Liberdade», que só um doente de cancro, absolutamente inocente, pode dizer-nos o limite de mais essa arrogância. Reduzir o mundo a uma dialéctica Esquerda-Direita é como matar por amor a um Clube de futebol. Mas, também, ver o mundo como Servan-Schreiber o vê, é esquecer o que disse o seu conterrâneo Bichat: « a vida é o conjunto das funções que resistem à morte». Mesmo aquelas que nos dizem que estando qualquer um de nós, morto, a prazo, resta-nos o dever de combater a Morte. Cada um de nós é uma «função de Bichat» e talvez este Natal seja melhor gastar mais em jogging, como os pastores do presépio e menos em camelo, como os Reis magos.
Saturday, November 21, 2009
Thursday, November 19, 2009
XLV - (Re)Leituras:The Geopolitics of Emotions, de Dominique Moïsi
Este livro foi publicado depois da eleição de Obama e antes da aprovação final do Tratado de Lisboa. Dominique Moïsi, do IFRI francês, é, talvez, o especialista de Relações Internacionais, francês, que melhor fala inglês. Filho dum sobrevivente de Auschwitz, parece-me o exemplo consumado da profunda estupidez do anti-semitismo. Não concordo com ele, já o presenciei em algumas atitudes um pouco arrogantes ou snobs, se não mesmo afectadas, mas tudo o que escreve é razoável, civilizado, até um pouco ingénuo, e sem ponta de perfídia. Neste livro, ele explica que as determinantes do Mundo moderno são a cultura da humilhação, à qual ele associa o mundo islâmico, e a cultura do medo, à qual ele associa o mundo israelita, mas também certa Europa e certa América. Termina com um capítulo de futurologia, com um cenário mau e outro bom, sobre o Mundo em 2025. Tem umas ideias interessantes como as de que os EUA se tornarão os missionários da ecologia, assinando um Acordo de Tóquio modificado e que tal os fará reentrar na Comunidade internacional, depois de passar um herdeiro de Obama, que será de extrema-direita mas isolacionista. Penso que exagera. Prevê, apesar de tudo, uma União Europeia, alinhando como Bloco económico e militar ao lado dos EUA, da Rússia, da China e da Índia mas, depois de um cenário, também possível, em que a Europa se reduzirá a menos do que o Reino Unido inicialmente queria dela. Prevê a independência da Catalunha, da Escócia e do País de Gales. Deixa o Brasil para depois. Prevê, apesar de tudo, um declínio da Europa, com expulsões em massa de emigrantes, prevê conflitos graves na Ásia, com a inevitabilidade de um regime fundamentalista no Paquistão, ou uma guerra local em Taiwan, e um exaurir do desenvolvimento da China. Prevê um clube muito maior de países nuclearizados, a começar pelo Japão mas também com a Turquia, a Arábia Saudita e o Egipto. Fala no bombardeamento conjunto das instalações nucleares iranianas, pelos EUA e Israel,derrubando Ahmanidejad, mas gerando um ódio generalizado aos EUA. No cenário bom, enquanto Israel e Palestina assinam finalmente o Tratado de Paz do conflito central da Modernidade, para Israel não acabar e a Palestina poder existir, abrindo Tel-Aviv mão de parte de Jesrusalém bem como dos territórios ocupados, e renunciando a Palestina ao direito de retorno dos seus exilados, o resto do Mundo debate-se com conflitos regionais. O Conselho de Segurança será alargado e contará com um Secretário-Geral carismático. Os «Grandes« contarão com a China, a Índia e o Brasil. Enfim, como ele diz, numa técnica de argumentação em que diz algumas coisas agradáveis, e deixa o paradoxo inquietante para o fim da frase, afinal Huntington tinha razão, porque conseguiu, em 1993, espalhar o perigo islâmico, o qual se materializou. Citando Hegel, os Homens fazem a História sem saberem qual. Acho que ele,o autor deste livro, realmente, não sabe.
XLV - (Re)Leituras:The Geopolitics of Emotions, de Dominique Moïsi
Este livro foi publicado depois da eleição de Obama e antes da aprovação final do Tratado de Lisboa. Dominique Moïsi, do IFRI francês, é, talvez, o especialista de Relações Internacionais, francês, que melhor fala inglês. Filho dum sobrevivente de Auschwitz, parece-me o exemplo consumado da profunda estupidez do anti-semitismo. Não concordo com ele, já o presenciei em algumas atitudes um pouco arrogantes ou snobs, se não mesmo afectadas, mas tudo o que escreve é razoável, civilizado, até um pouco ingénuo, e sem ponta de perfídia. Neste livro, ele explica que as determinantes do Mundo moderno são a cultura da humilhação, à qual ele associa o mundo islâmico, e a cultura do medo, à qual ele associa o mundo israelita, mas também certa Europa e certa América. Termina com um capítulo de futurologia, com um cenário mau e outro bom, sobre o Mundo em 2025. Tem umas ideias interessantes como as de que os EUA se tornarão os missionários da ecologia, assinando um Acordo de Tóquio modificado e que tal os fará reentrar na Comunidade internacional, depois de passar um herdeiro de Obama, que será de extrema-direita mas isolacionista. Penso que exagera. Prevê, apesar de tudo, uma União Europeia, alinhando como Bloco económico e militar ao lado dos EUA, da Rússia, da China e da Índia mas, depois de um cenário, também possível, em que a Europa se reduzirá a menos do que o Reino Unido inicialmente queria dela. Prevê a independência da Catalunha, da Escócia e do País de Gales. Deixa o Brasil para depois. Prevê, apesar de tudo, um declínio da Europa, com expulsões em massa de emigrantes, prevê conflitos graves na Ásia, com a inevitabilidade de um regime fundamentalista no Paquistão, ou uma guerra local em Taiwan, e um exaurir do desenvolvimento da China. Prevê um clube muito maior de países nuclearizados, a começar pelo Japão mas também com a Turquia, a Arábia Saudita e o Egipto. Fala no bombardeamento conjunto das instalações nucleares iranianas, pelos EUA e Israel,derrubando Ahmanidejad, mas gerando um ódio generalizado aos EUA. No cenário bom, enquanto Israel e Palestina assinam finalmente o Tratado de Paz do conflito central da Modernidade, para Israel não acabar e a Palestina poder existir, abrindo Tel-Aviv mão de parte de Jesrusalém bem como dos territórios ocupados, e renunciando a Palestina ao direito de retorno dos seus exilados, o resto do Mundo debate-se com conflitos regionais. O Conselho de Segurança será alargado e contará com um Secretário-Geral carismático. Os «Grandes« contarão com a China, a Índia e o Brasil. Enfim, como ele diz, numa técnica de argumentação em que diz algumas coisas agradáveis, e deixa o paradoxo inquietante para o fim da frase, afinal Huntington tinha razão, porque conseguiu, em 1993, espalhar o perigo islâmico, o qual se materializou. Citando Hegel, os Homens fazem a História sem saberem qual. Acho que ele,o autor deste livro, realmente, não sabe.
Tuesday, November 17, 2009
XLIV - (Re)leituras, Milton: Political Writings, edited by Martin Dzelzainis, by André Bandeira
This collection of Milton's Political Writings, published in 1991, sheds some light on a politician who managed to survive as a poet. He got blind, had to go on hiding but finally got his own Candide's garden.
After reading his Tenure of King's and Magistrates, written to justify the beheading of the catholic Charles the First, and especially after reading his vitriolic argument, in Anglicorum Popolo Defensio, with Symasius, who was himself an «hired gun» for the royalists, one concludes that the modern conception of Republic didn't surface in Paris, in 1789, but did it long before, in London, in 1649.
What made both of the republics so prone to beheading as an execution techinque? It was the same costum of reserving to aristocrats, the fast lane. If the matter was speed, the ensuing civil wars, which didn't stop at all, neither during the Glorious Revolution, in 1688, nor with Napoleon, became the weapon of choice for eliminating other categories of ennemies, who were slower in time. At some point, Milton contends that his peculiar way of defending Cromwell's militar dictatorship is supported by evidences such as the fact that there is a pars potior or a pars sanior, a better or a healthier part of the population (the army, for instance) to legitimize a murder vested in trial. It doesn't matter which kind of church or doctrine, was Milton standing for. A mixture of Zwingli, and Luther was fair enough, particularly if all of it mouthed in the well proven demagoguery of Buchanan. As it happens in every Revolution, especially those ones proped up by black shirts such as the puritans and round-heads, the protagonists, and nobody but them, are day-dreaming. Therefore, there is a need in combing poets with advocates in every revolution, because they make nightmares look like dreams.
As far as one studies the fine art of conspiracy which leads to Monk turning his coat and facilitate the restoration of Charles the second, and, further in time, the restoration of parliamentarism, by William of Orange, one gets the feeling that what counts, is to have friends who stay afloat in every situation. If this corresponds to a technique of managing a stock of skeletons in the closet, as a kind of way in reaching a newtonian mass, it depends on how far Newton followed a secret cult. But it shows as well that nobody needs a kind of british parliamentarism, where royalists are ressented and republicans are frustrated. Instead of a little fatalism called Leviathan and a great deal of cynicysm, called Behemoth, as Hobbes put it, one needs more than a cave light which led Milton to see Lucifer as a superman, the moment he couldn´t see anything. As a matter of fact, in Paradise Lost, he watched the wrong movie: it was Frankenstein. The parts of the monster's body were ghosts of a demagogical assembly of sensations : an allucination called res publica.
After reading his Tenure of King's and Magistrates, written to justify the beheading of the catholic Charles the First, and especially after reading his vitriolic argument, in Anglicorum Popolo Defensio, with Symasius, who was himself an «hired gun» for the royalists, one concludes that the modern conception of Republic didn't surface in Paris, in 1789, but did it long before, in London, in 1649.
What made both of the republics so prone to beheading as an execution techinque? It was the same costum of reserving to aristocrats, the fast lane. If the matter was speed, the ensuing civil wars, which didn't stop at all, neither during the Glorious Revolution, in 1688, nor with Napoleon, became the weapon of choice for eliminating other categories of ennemies, who were slower in time. At some point, Milton contends that his peculiar way of defending Cromwell's militar dictatorship is supported by evidences such as the fact that there is a pars potior or a pars sanior, a better or a healthier part of the population (the army, for instance) to legitimize a murder vested in trial. It doesn't matter which kind of church or doctrine, was Milton standing for. A mixture of Zwingli, and Luther was fair enough, particularly if all of it mouthed in the well proven demagoguery of Buchanan. As it happens in every Revolution, especially those ones proped up by black shirts such as the puritans and round-heads, the protagonists, and nobody but them, are day-dreaming. Therefore, there is a need in combing poets with advocates in every revolution, because they make nightmares look like dreams.
As far as one studies the fine art of conspiracy which leads to Monk turning his coat and facilitate the restoration of Charles the second, and, further in time, the restoration of parliamentarism, by William of Orange, one gets the feeling that what counts, is to have friends who stay afloat in every situation. If this corresponds to a technique of managing a stock of skeletons in the closet, as a kind of way in reaching a newtonian mass, it depends on how far Newton followed a secret cult. But it shows as well that nobody needs a kind of british parliamentarism, where royalists are ressented and republicans are frustrated. Instead of a little fatalism called Leviathan and a great deal of cynicysm, called Behemoth, as Hobbes put it, one needs more than a cave light which led Milton to see Lucifer as a superman, the moment he couldn´t see anything. As a matter of fact, in Paradise Lost, he watched the wrong movie: it was Frankenstein. The parts of the monster's body were ghosts of a demagogical assembly of sensations : an allucination called res publica.
XLIV - (Re)leituras, Milton: Political Writings, edited by Martin Dzelzainis, by André Bandeira
This collection of Milton's Political Writings, published in 1991, sheds some light on a politician who managed to survive as a poet. He got blind, had to go on hiding but finally got his own Candide's garden.
After reading his Tenure of King's and Magistrates, written to justify the beheading of the catholic Charles the First, and especially after reading his vitriolic argument, in Anglicorum Popolo Defensio, with Symasius, who was himself an «hired gun» for the royalists, one concludes that the modern conception of Republic didn't surface in Paris, in 1789, but did it long before, in London, in 1649.
What made both of the republics so prone to beheading as an execution techinque? It was the same costum of reserving to aristocrats, the fast lane. If the matter was speed, the ensuing civil wars, which didn't stop at all, neither during the Glorious Revolution, in 1688, nor with Napoleon, became the weapon of choice for eliminating other categories of ennemies, who were slower in time. At some point, Milton contends that his peculiar way of defending Cromwell's militar dictatorship is supported by evidences such as the fact that there is a pars potior or a pars sanior, a better or a healthier part of the population (the army, for instance) to legitimize a murder vested in trial. It doesn't matter which kind of church or doctrine, was Milton standing for. A mixture of Zwingli, and Luther was fair enough, particularly if all of it mouthed in the well proven demagoguery of Buchanan. As it happens in every Revolution, especially those ones proped up by black shirts such as the puritans and round-heads, the protagonists, and nobody but them, are day-dreaming. Therefore, there is a need in combing poets with advocates in every revolution, because they make nightmares look like dreams.
As far as one studies the fine art of conspiracy which leads to Monk turning his coat and facilitate the restoration of Charles the second, and, further in time, the restoration of parliamentarism, by William of Orange, one gets the feeling that what counts, is to have friends who stay afloat in every situation. If this corresponds to a technique of managing a stock of skeletons in the closet, as a kind of way in reaching a newtonian mass, it depends on how far Newton followed a secret cult. But it shows as well that nobody needs a kind of british parliamentarism, where royalists are ressented and republicans are frustrated. Instead of a little fatalism called Leviathan and a great deal of cynicysm, called Behemoth, as Hobbes put it, one needs more than a cave light which led Milton to see Lucifer as a superman, the moment he couldn´t see anything. As a matter of fact, in Paradise Lost, he watched the wrong movie: it was Frankenstein. The parts of the monster's body were ghosts of a demagogical assembly of sensations : an allucination called res publica.
After reading his Tenure of King's and Magistrates, written to justify the beheading of the catholic Charles the First, and especially after reading his vitriolic argument, in Anglicorum Popolo Defensio, with Symasius, who was himself an «hired gun» for the royalists, one concludes that the modern conception of Republic didn't surface in Paris, in 1789, but did it long before, in London, in 1649.
What made both of the republics so prone to beheading as an execution techinque? It was the same costum of reserving to aristocrats, the fast lane. If the matter was speed, the ensuing civil wars, which didn't stop at all, neither during the Glorious Revolution, in 1688, nor with Napoleon, became the weapon of choice for eliminating other categories of ennemies, who were slower in time. At some point, Milton contends that his peculiar way of defending Cromwell's militar dictatorship is supported by evidences such as the fact that there is a pars potior or a pars sanior, a better or a healthier part of the population (the army, for instance) to legitimize a murder vested in trial. It doesn't matter which kind of church or doctrine, was Milton standing for. A mixture of Zwingli, and Luther was fair enough, particularly if all of it mouthed in the well proven demagoguery of Buchanan. As it happens in every Revolution, especially those ones proped up by black shirts such as the puritans and round-heads, the protagonists, and nobody but them, are day-dreaming. Therefore, there is a need in combing poets with advocates in every revolution, because they make nightmares look like dreams.
As far as one studies the fine art of conspiracy which leads to Monk turning his coat and facilitate the restoration of Charles the second, and, further in time, the restoration of parliamentarism, by William of Orange, one gets the feeling that what counts, is to have friends who stay afloat in every situation. If this corresponds to a technique of managing a stock of skeletons in the closet, as a kind of way in reaching a newtonian mass, it depends on how far Newton followed a secret cult. But it shows as well that nobody needs a kind of british parliamentarism, where royalists are ressented and republicans are frustrated. Instead of a little fatalism called Leviathan and a great deal of cynicysm, called Behemoth, as Hobbes put it, one needs more than a cave light which led Milton to see Lucifer as a superman, the moment he couldn´t see anything. As a matter of fact, in Paradise Lost, he watched the wrong movie: it was Frankenstein. The parts of the monster's body were ghosts of a demagogical assembly of sensations : an allucination called res publica.
Monday, November 16, 2009
XLIII - Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, por André Bandeira
Este livro, tem edições subtis. Pego na de 1946. Mas o livro foi escrito, em 1936, um ano antes do golpe facistóide de Getúlio Vargas e dois, depois da insurreição comunistóide de Luís Carlos Prestes, o «Cavaleiro de Esperança». O texto é uma boa peça de investigação para a identidade portuguesa, no Séc.XXI. Para um país, como o Brasil, que será uma potência mundial dentro de alguns anos, e cujos intelectuais, depois de se sentarem à mesa dos maiores Pensadores do seu Tempo, insistem na identidade portuguesa das suas raízes, Portugal ainda é importante. Mas Sérgio Buarque de Holanda não se ensina nas escolas portuguesas, talvez porque há gente em Portugal que quer dissolver a identidade nacional, há muito tempo e a luta é amarga, há muito tempo também. Holanda terminou aqui a sua sociologia do Brasil e passou a Historiador. Dizem que foi Historiador das mentalidades.Porque,com tanta traição e tanto Miguel de Vasconcelos, Holanda não podia ir fazer a História do Brasil, em Lisboa. Rir-se-iam dele, como «brazuca». Por isso, saíu da América Portuguesa para uma outra América, que também tocou Roma.Contudo, Holanda sofre dum amargor irreparável em relação ao Brasil. Não o troca por uma cátedra na Europa, torce-se em esgares duma Nação em trabalho de parto e, por isso, não lhe adiantaria pensar que está noutro lugar. Defende, a concluir, que há um «espírito» que comanda a História e que a forma de Estado que o contorna, fica sempre no contorno. O erro dos fascistas, nomeadamente os postiços «integralistas» brasileiros, foi não serem oposição nenhuma. E o erro dos comunistas brasileiros foi o de serem naturalmente «anarquistas». Holanda deve ser um hegeliano no Brasil espírita, o que torna a pergunta sobre quem é o seu «Espírito da História», uma chalaça. Holanda é conservador e autoritário, apesar de se julgar avançado. E é-o em nome do realismo, dum frio polar como o de Max Weber. É cómico ver um «frio polar» num intelectual brasileiro. Portanto, a identidade nacional de Portugal é também brasileira, já que este frio polar permanece na combustão tropical dos portugueses. O estudo minucioso que Holanda fez da monarquia brasileira, apesar da curta duração desta, é fundamental para Portugal, porque a mesma pode ter durado pouco mas envolveu milhões de almas. E Holanda fala sem problemas de «influência ibérica», para, a todo o momento estabelecer a diferença abismal entre Portugal e Espanha. Pois...é que o Brasil não precisa nem de ódios, nem de guerras, nem de traições, para perceber a sua especificidade lusitana. O Brasil não é um imenso Portugal mas Portugal é um pedaço do Brasil.
XLIII - Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, por André Bandeira
Este livro, tem edições subtis. Pego na de 1946. Mas o livro foi escrito, em 1936, um ano antes do golpe facistóide de Getúlio Vargas e dois, depois da insurreição comunistóide de Luís Carlos Prestes, o «Cavaleiro de Esperança». O texto é uma boa peça de investigação para a identidade portuguesa, no Séc.XXI. Para um país, como o Brasil, que será uma potência mundial dentro de alguns anos, e cujos intelectuais, depois de se sentarem à mesa dos maiores Pensadores do seu Tempo, insistem na identidade portuguesa das suas raízes, Portugal ainda é importante. Mas Sérgio Buarque de Holanda não se ensina nas escolas portuguesas, talvez porque há gente em Portugal que quer dissolver a identidade nacional, há muito tempo e a luta é amarga, há muito tempo também. Holanda terminou aqui a sua sociologia do Brasil e passou a Historiador. Dizem que foi Historiador das mentalidades.Porque,com tanta traição e tanto Miguel de Vasconcelos, Holanda não podia ir fazer a História do Brasil, em Lisboa. Rir-se-iam dele, como «brazuca». Por isso, saíu da América Portuguesa para uma outra América, que também tocou Roma.Contudo, Holanda sofre dum amargor irreparável em relação ao Brasil. Não o troca por uma cátedra na Europa, torce-se em esgares duma Nação em trabalho de parto e, por isso, não lhe adiantaria pensar que está noutro lugar. Defende, a concluir, que há um «espírito» que comanda a História e que a forma de Estado que o contorna, fica sempre no contorno. O erro dos fascistas, nomeadamente os postiços «integralistas» brasileiros, foi não serem oposição nenhuma. E o erro dos comunistas brasileiros foi o de serem naturalmente «anarquistas». Holanda deve ser um hegeliano no Brasil espírita, o que torna a pergunta sobre quem é o seu «Espírito da História», uma chalaça. Holanda é conservador e autoritário, apesar de se julgar avançado. E é-o em nome do realismo, dum frio polar como o de Max Weber. É cómico ver um «frio polar» num intelectual brasileiro. Portanto, a identidade nacional de Portugal é também brasileira, já que este frio polar permanece na combustão tropical dos portugueses. O estudo minucioso que Holanda fez da monarquia brasileira, apesar da curta duração desta, é fundamental para Portugal, porque a mesma pode ter durado pouco mas envolveu milhões de almas. E Holanda fala sem problemas de «influência ibérica», para, a todo o momento estabelecer a diferença abismal entre Portugal e Espanha. Pois...é que o Brasil não precisa nem de ódios, nem de guerras, nem de traições, para perceber a sua especificidade lusitana. O Brasil não é um imenso Portugal mas Portugal é um pedaço do Brasil.
Sunday, November 15, 2009
XLII - Republicanos e Libertários - Pensadores radicais no Rio de Janeiro (1822), de Renato Lopes Leite, por André Bandeira
Hoje é 15 de Novembro, data da proclamação da República no Brasil. Alguns intelectuais brasileiros lamentam a data, dizendo que a República do Brasil inaugurou um período de guerras civis e aboliu um Imperador, Pedro II, que era afinal republicano. Neste livro percebe-se que já o seu pai, D.Pedro I, II de Portugal, era provavelmente republicano e que a luta nas Cortes constitucionais em Lisboa foi entre republicanos brasileiros e monárquicos portugueses. Mas a luta nas Cortes constitucionais do Brasil independente, em 1823,essa foi entre monárquicos constitucionais e republicanos. No fim, perderam os republicanos, e fizeram a Liga do Equador, que se revoltou contra o Rio de Janeiro de D. Pedro II do Brasil, levando ao primeiro ciclo de violência, no qual pereceram de João Soares Lisboa, um português feito brasileiro, e Frei Caneca. Mas o livro conclui de um modo cândido, dizendo que a proclamação da independência do Brasil, foi sobretudo resultado da intervenção da Imprensa republicana. O livro diz que sim. E acrescenta que o apoio popular foi certificado por uma série de festas públicas e populares em tumulto, nas quais a «voz do Povo» deu vivas ao Imperador do Brasil, entre foguetes e cornetas. Enquanto se lançavam também as sementes de um conflito racial, a proclamação foi o resultado de uma luta de elites, nas quais a minoria republicana - assinale-se -- nunca simpatizou, nem com Robespierre, nem com as invasões napoleónicas. E o conceito de Liberdade desta minoria era sobretudo a resistência à corrupção e à arbitrariedade do Estado. João Soares Lisboa morre em combate, agonizando por um dia, encostado a uma árvore,com uma frase bonita: «Morro nos braços da amizade».
Reconheço os ideais desta gente capaz do martírio. Porém, a História é tão irónica quanto a Humanidade. O desejo de Justiça e de Paz destes revolucionários surgiu depois de uma política sinistra e secreta, inaugurada com a abortada República de Cromwell e a seguinte Restauração dos Stuarts em Inglaterra, tudo abençoado pelo mago Hobbes. Não trouxe Paz a ninguém, entre picos de Justiça, semeou desertos de Injustiça e, de consolo, deu apenas breves alívios.Um regime deixou de se poder justificar por uma sequência de festas populares, em tumulto, nas quais se gritam alguns slogans. Os Reis que ainda existem, como as calotes polares da Humanidade, têm o dever de travar as lutas raivosas das elites. Com o escudo da gente boa e a espada da gente verdadeira.É esta a promessa do Rei Antigo, que não reina senão nos corações e que não é Imperador de nada.
Reconheço os ideais desta gente capaz do martírio. Porém, a História é tão irónica quanto a Humanidade. O desejo de Justiça e de Paz destes revolucionários surgiu depois de uma política sinistra e secreta, inaugurada com a abortada República de Cromwell e a seguinte Restauração dos Stuarts em Inglaterra, tudo abençoado pelo mago Hobbes. Não trouxe Paz a ninguém, entre picos de Justiça, semeou desertos de Injustiça e, de consolo, deu apenas breves alívios.Um regime deixou de se poder justificar por uma sequência de festas populares, em tumulto, nas quais se gritam alguns slogans. Os Reis que ainda existem, como as calotes polares da Humanidade, têm o dever de travar as lutas raivosas das elites. Com o escudo da gente boa e a espada da gente verdadeira.É esta a promessa do Rei Antigo, que não reina senão nos corações e que não é Imperador de nada.
XLII - Republicanos e Libertários - Pensadores radicais no Rio de Janeiro (1822), de Renato Lopes Leite, por André Bandeira
Hoje é 15 de Novembro, data da proclamação da República no Brasil. Alguns intelectuais brasileiros lamentam a data, dizendo que a República do Brasil inaugurou um período de guerras civis e aboliu um Imperador, Pedro II, que era afinal republicano. Neste livro percebe-se que já o seu pai, D.Pedro I, II de Portugal, era provavelmente republicano e que a luta nas Cortes constitucionais em Lisboa foi entre republicanos brasileiros e monárquicos portugueses. Mas a luta nas Cortes constitucionais do Brasil independente, em 1823,essa foi entre monárquicos constitucionais e republicanos. No fim, perderam os republicanos, e fizeram a Liga do Equador, que se revoltou contra o Rio de Janeiro de D. Pedro II do Brasil, levando ao primeiro ciclo de violência, no qual pereceram de João Soares Lisboa, um português feito brasileiro, e Frei Caneca. Mas o livro conclui de um modo cândido, dizendo que a proclamação da independência do Brasil, foi sobretudo resultado da intervenção da Imprensa republicana. O livro diz que sim. E acrescenta que o apoio popular foi certificado por uma série de festas públicas e populares em tumulto, nas quais a «voz do Povo» deu vivas ao Imperador do Brasil, entre foguetes e cornetas. Enquanto se lançavam também as sementes de um conflito racial, a proclamação foi o resultado de uma luta de elites, nas quais a minoria republicana - assinale-se -- nunca simpatizou, nem com Robespierre, nem com as invasões napoleónicas. E o conceito de Liberdade desta minoria era sobretudo a resistência à corrupção e à arbitrariedade do Estado. João Soares Lisboa morre em combate, agonizando por um dia, encostado a uma árvore,com uma frase bonita: «Morro nos braços da amizade».
Reconheço os ideais desta gente capaz do martírio. Porém, a História é tão irónica quanto a Humanidade. O desejo de Justiça e de Paz destes revolucionários surgiu depois de uma política sinistra e secreta, inaugurada com a abortada República de Cromwell e a seguinte Restauração dos Stuarts em Inglaterra, tudo abençoado pelo mago Hobbes. Não trouxe Paz a ninguém, entre picos de Justiça, semeou desertos de Injustiça e, de consolo, deu apenas breves alívios.Um regime deixou de se poder justificar por uma sequência de festas populares, em tumulto, nas quais se gritam alguns slogans. Os Reis que ainda existem, como as calotes polares da Humanidade, têm o dever de travar as lutas raivosas das elites. Com o escudo da gente boa e a espada da gente verdadeira.É esta a promessa do Rei Antigo, que não reina senão nos corações e que não é Imperador de nada.
Reconheço os ideais desta gente capaz do martírio. Porém, a História é tão irónica quanto a Humanidade. O desejo de Justiça e de Paz destes revolucionários surgiu depois de uma política sinistra e secreta, inaugurada com a abortada República de Cromwell e a seguinte Restauração dos Stuarts em Inglaterra, tudo abençoado pelo mago Hobbes. Não trouxe Paz a ninguém, entre picos de Justiça, semeou desertos de Injustiça e, de consolo, deu apenas breves alívios.Um regime deixou de se poder justificar por uma sequência de festas populares, em tumulto, nas quais se gritam alguns slogans. Os Reis que ainda existem, como as calotes polares da Humanidade, têm o dever de travar as lutas raivosas das elites. Com o escudo da gente boa e a espada da gente verdadeira.É esta a promessa do Rei Antigo, que não reina senão nos corações e que não é Imperador de nada.
Thursday, November 12, 2009
NA CHINA...
Exigências de sequestrador
para libertar um refém na China:





Em Portugal, na Europa, a rua seria fechada, o homem teria a maior cobertura mediática, - designadamente da SIC, da TVI e da TSF - as negociações durariam 12 horas seguidas, viriam os gajos dos Direitos Humanos, da Quercus, do Bloco de Esquerda, do PCP, da CDU, dos VERDES (e se calhar o Meneses...) da CDSPPM (Comissão de Defesa dos Sequestradores Portadores de Perturbações Mentais), a puta que os pariu, etc... O preso custaria milhões para ter um julgamento "justo", comida e boa vida na cadeia.
Entenderam os motivos pelos quais os produtos chineses são mais baratos que os nossos?
(Recebido por email)
XLI - (Re)leituras - The post-american World, de Fareed Zakaria, por André Bandeira
Fareed Zakaria, ex-editor da Newsweek, e com show próprio na CNN, escreveu este livro, pouco antes de Obama ser eleito. Hussein Obama fez um ano de presidência e John Muhammad, que, com o filho, matara dez pessoas arbitrariamente,em 2002, presumivelmente por uma imitação solitária da Al-Qaeda, foi executado sem últimas palavras.Dois nomes de nómadas do deserto dão o alfa e o ómega deste mandato presidencial que Zakaria, à data do livro, cautelosamente, não vaticinou.
Zakaria vem de Bombaim,sonhava com a América e materializou o seu sonho. De tal modo, que, depois de recitar a lição de óptimo aluno de Harvard, vem jogar. Porém, o seu tabuleiro de jogo é medonho: a Índia é um Estado-nação, os Estados-nação da Europa estão condenados a definhar e o Estado-nação americano, a «nação universal», vai continuar a liderar, mesmo num mundo bipolar -- com a China -- ou multipolar,com o Brasil e o México também.O jogo é sempre o mesmo, o do Poder, em que ser de esquerda liberal é igual ao credo de que a política pode mudar a cultura, se se vencer a competição. E o que é a «competição»? A maior classe média do Mundo, a lentidão indiana, contradições e vontade de prosperar,é a melhor das competições.
A competição por clientes, dos batoteiros, faz parte do jogo. Afinal, os Estados-nação -- ou campos de ensaio -- que a vaga de descolonização, seguinte à Segunda Guerra Mundial, inventou, por acordo entre os EUA e a URSS, reivindicam agora a selecção natural, no campo da Cultura. Os pequenos Estados-Nação, a despeito da sua longa História, estão condenados à irrelevância. Por conseguinte, só grandes Nações podem dividir o Mundo e, desde já, é entre essas Grandes Nações que se devem fazer intercâmbios. Entre as Grandes e as pequenas Nações só há concursos internos.O Ocidente certamente que cometeu erros hediondos, mas não deve somar, aos erros que cometeu, o do masoquismo. Se houve batoteiros que faziam «bluff» dizendo-se descendentes do Carlos Magno, a batota será a mesma quer se digam descendentes duma casta indiana superior, que beberam confucionismo no berço ou que são descendentes do lobisomem das estepes.
Zakaria vem de Bombaim,sonhava com a América e materializou o seu sonho. De tal modo, que, depois de recitar a lição de óptimo aluno de Harvard, vem jogar. Porém, o seu tabuleiro de jogo é medonho: a Índia é um Estado-nação, os Estados-nação da Europa estão condenados a definhar e o Estado-nação americano, a «nação universal», vai continuar a liderar, mesmo num mundo bipolar -- com a China -- ou multipolar,com o Brasil e o México também.O jogo é sempre o mesmo, o do Poder, em que ser de esquerda liberal é igual ao credo de que a política pode mudar a cultura, se se vencer a competição. E o que é a «competição»? A maior classe média do Mundo, a lentidão indiana, contradições e vontade de prosperar,é a melhor das competições.
A competição por clientes, dos batoteiros, faz parte do jogo. Afinal, os Estados-nação -- ou campos de ensaio -- que a vaga de descolonização, seguinte à Segunda Guerra Mundial, inventou, por acordo entre os EUA e a URSS, reivindicam agora a selecção natural, no campo da Cultura. Os pequenos Estados-Nação, a despeito da sua longa História, estão condenados à irrelevância. Por conseguinte, só grandes Nações podem dividir o Mundo e, desde já, é entre essas Grandes Nações que se devem fazer intercâmbios. Entre as Grandes e as pequenas Nações só há concursos internos.O Ocidente certamente que cometeu erros hediondos, mas não deve somar, aos erros que cometeu, o do masoquismo. Se houve batoteiros que faziam «bluff» dizendo-se descendentes do Carlos Magno, a batota será a mesma quer se digam descendentes duma casta indiana superior, que beberam confucionismo no berço ou que são descendentes do lobisomem das estepes.
XLI - (Re)leituras - The post-american World, de Fareed Zakaria, por André Bandeira
Fareed Zakaria, ex-editor da Newsweek, e com show próprio na CNN, escreveu este livro, pouco antes de Obama ser eleito. Hussein Obama fez um ano de presidência e John Muhammad, que, com o filho, matara dez pessoas arbitrariamente,em 2002, presumivelmente por uma imitação solitária da Al-Qaeda, foi executado sem últimas palavras.Dois nomes de nómadas do deserto dão o alfa e o ómega deste mandato presidencial que Zakaria, à data do livro, cautelosamente, não vaticinou.
Zakaria vem de Bombaim,sonhava com a América e materializou o seu sonho. De tal modo, que, depois de recitar a lição de óptimo aluno de Harvard, vem jogar. Porém, o seu tabuleiro de jogo é medonho: a Índia é um Estado-nação, os Estados-nação da Europa estão condenados a definhar e o Estado-nação americano, a «nação universal», vai continuar a liderar, mesmo num mundo bipolar -- com a China -- ou multipolar,com o Brasil e o México também.O jogo é sempre o mesmo, o do Poder, em que ser de esquerda liberal é igual ao credo de que a política pode mudar a cultura, se se vencer a competição. E o que é a «competição»? A maior classe média do Mundo, a lentidão indiana, contradições e vontade de prosperar,é a melhor das competições.
A competição por clientes, dos batoteiros, faz parte do jogo. Afinal, os Estados-nação -- ou campos de ensaio -- que a vaga de descolonização, seguinte à Segunda Guerra Mundial, inventou, por acordo entre os EUA e a URSS, reivindicam agora a selecção natural, no campo da Cultura. Os pequenos Estados-Nação, a despeito da sua longa História, estão condenados à irrelevância. Por conseguinte, só grandes Nações podem dividir o Mundo e, desde já, é entre essas Grandes Nações que se devem fazer intercâmbios. Entre as Grandes e as pequenas Nações só há concursos internos.O Ocidente certamente que cometeu erros hediondos, mas não deve somar, aos erros que cometeu, o do masoquismo. Se houve batoteiros que faziam «bluff» dizendo-se descendentes do Carlos Magno, a batota será a mesma quer se digam descendentes duma casta indiana superior, que beberam confucionismo no berço ou que são descendentes do lobisomem das estepes.
Zakaria vem de Bombaim,sonhava com a América e materializou o seu sonho. De tal modo, que, depois de recitar a lição de óptimo aluno de Harvard, vem jogar. Porém, o seu tabuleiro de jogo é medonho: a Índia é um Estado-nação, os Estados-nação da Europa estão condenados a definhar e o Estado-nação americano, a «nação universal», vai continuar a liderar, mesmo num mundo bipolar -- com a China -- ou multipolar,com o Brasil e o México também.O jogo é sempre o mesmo, o do Poder, em que ser de esquerda liberal é igual ao credo de que a política pode mudar a cultura, se se vencer a competição. E o que é a «competição»? A maior classe média do Mundo, a lentidão indiana, contradições e vontade de prosperar,é a melhor das competições.
A competição por clientes, dos batoteiros, faz parte do jogo. Afinal, os Estados-nação -- ou campos de ensaio -- que a vaga de descolonização, seguinte à Segunda Guerra Mundial, inventou, por acordo entre os EUA e a URSS, reivindicam agora a selecção natural, no campo da Cultura. Os pequenos Estados-Nação, a despeito da sua longa História, estão condenados à irrelevância. Por conseguinte, só grandes Nações podem dividir o Mundo e, desde já, é entre essas Grandes Nações que se devem fazer intercâmbios. Entre as Grandes e as pequenas Nações só há concursos internos.O Ocidente certamente que cometeu erros hediondos, mas não deve somar, aos erros que cometeu, o do masoquismo. Se houve batoteiros que faziam «bluff» dizendo-se descendentes do Carlos Magno, a batota será a mesma quer se digam descendentes duma casta indiana superior, que beberam confucionismo no berço ou que são descendentes do lobisomem das estepes.
Tuesday, November 10, 2009
Sunday, November 8, 2009
XL - (Re)leituras - A Crítica da Faculdade de Julgar, de Immanuel Kant, por André Bandeira
Esta terceira «Crítica», de Kant, permitia aplicar uma espécie de raciocínio cumulativo para distinguir uma coisa bela duma outra sublime. Tudo dependia de categorias novas, como se «Alma, Mundo e Deus» ou Qualidade e Quantidade não permitissem, numa cervejaria, acertar entre uma cerveja, que se oferece, e o decote da criada, que arrefece. Seguindo Thomas Kuhn,as ciências humanas exigem «categorias móveis». Por exemplo, para explicar a sentença do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, para que se retirem os crucifixos das escolas, em Itália,eu acho que a categoria móvel, neste caso, é ambulante e o seu conceito «a ambulância».Goethe já dizia que, nem sempre a percepção erra. É o juízo que erra.
Ora vamos bem analisar o programa de uma excursão da escola dos nossos filhos, em que os podemos acompanhar. Os miúdos vão ver uma cidade europeia. Passem por aquela praça e está lá uma cruz, em cima do fontanário. A seguir, eles verão o cimo daquelas ruas com estátuas, algumas delas com cruzes. As estátuas estão com «gestos cristãos», como olhar para o céu, meter a mão no peito, carregar galos e chaves do Céu, peixes e coisas assim. Claro que há campanários por toda a parte, com cruzes em cima, colocadas em pontos estratégicos da cidade. No cimo daquela colina podem ver um fulano barbudo,de pálpebras semi-cerradas e em camisa de noite, com os braços abertos. Mede cerca de setenta metros, um exagero para um monumento à candura do sonambulismo e do Inconsciente de Freud,ou tratar-se-á de um campeão de natação, por estar ao pé do rio? E, agora, podem descer do autocarro e ir beber umas cervejas naquela tasca que existe desde o Séc. XVII, enquanto os miúdos jogam «Massacre», ou «Exterminio Total» no computador. Se olharem para o decote da empregada, e repararem na cruz, a balançar entre as duas suaves curvas na gola de renda, não se lembrem do «Manual de maus costumes» da Bíblia, nem tentem arrancar-lhe a cruz porque se ele traz vinte cervejas de cada vez, já houve quem a visse com três turistas engraçadinhos, debaixo do braço. É tudo um erro de percepção, como as receitas do Psiquiatra militar Nidal Malik Hassan.São as vossas caras que ficam mal na fotografia e há que fazer uma operação estética.Quando mudarem as vossas caras que podem traumatizar os meninos da escola,o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem terá também mudado já, o seu nome, para Tribunal do Juízo Universal.Se falharem a visita da sede desse baluarte da Liberdade e da Democracia, com um triângulo de quatro lados em cima,poderão dizer, sem preocupações: «Oh, que pena! Perdemos o Juízo!"
Ora vamos bem analisar o programa de uma excursão da escola dos nossos filhos, em que os podemos acompanhar. Os miúdos vão ver uma cidade europeia. Passem por aquela praça e está lá uma cruz, em cima do fontanário. A seguir, eles verão o cimo daquelas ruas com estátuas, algumas delas com cruzes. As estátuas estão com «gestos cristãos», como olhar para o céu, meter a mão no peito, carregar galos e chaves do Céu, peixes e coisas assim. Claro que há campanários por toda a parte, com cruzes em cima, colocadas em pontos estratégicos da cidade. No cimo daquela colina podem ver um fulano barbudo,de pálpebras semi-cerradas e em camisa de noite, com os braços abertos. Mede cerca de setenta metros, um exagero para um monumento à candura do sonambulismo e do Inconsciente de Freud,ou tratar-se-á de um campeão de natação, por estar ao pé do rio? E, agora, podem descer do autocarro e ir beber umas cervejas naquela tasca que existe desde o Séc. XVII, enquanto os miúdos jogam «Massacre», ou «Exterminio Total» no computador. Se olharem para o decote da empregada, e repararem na cruz, a balançar entre as duas suaves curvas na gola de renda, não se lembrem do «Manual de maus costumes» da Bíblia, nem tentem arrancar-lhe a cruz porque se ele traz vinte cervejas de cada vez, já houve quem a visse com três turistas engraçadinhos, debaixo do braço. É tudo um erro de percepção, como as receitas do Psiquiatra militar Nidal Malik Hassan.São as vossas caras que ficam mal na fotografia e há que fazer uma operação estética.Quando mudarem as vossas caras que podem traumatizar os meninos da escola,o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem terá também mudado já, o seu nome, para Tribunal do Juízo Universal.Se falharem a visita da sede desse baluarte da Liberdade e da Democracia, com um triângulo de quatro lados em cima,poderão dizer, sem preocupações: «Oh, que pena! Perdemos o Juízo!"
XL - (Re)leituras - A Crítica da Faculdade de Julgar, de Immanuel Kant, por André Bandeira
Esta terceira «Crítica», de Kant, permitia aplicar uma espécie de raciocínio cumulativo para distinguir uma coisa bela duma outra sublime. Tudo dependia de categorias novas, como se «Alma, Mundo e Deus» ou Qualidade e Quantidade não permitissem, numa cervejaria, acertar entre uma cerveja, que se oferece, e o decote da criada, que arrefece. Seguindo Thomas Kuhn,as ciências humanas exigem «categorias móveis». Por exemplo, para explicar a sentença do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, para que se retirem os crucifixos das escolas, em Itália,eu acho que a categoria móvel, neste caso, é ambulante e o seu conceito «a ambulância».Goethe já dizia que, nem sempre a percepção erra. É o juízo que erra.
Ora vamos bem analisar o programa de uma excursão da escola dos nossos filhos, em que os podemos acompanhar. Os miúdos vão ver uma cidade europeia. Passem por aquela praça e está lá uma cruz, em cima do fontanário. A seguir, eles verão o cimo daquelas ruas com estátuas, algumas delas com cruzes. As estátuas estão com «gestos cristãos», como olhar para o céu, meter a mão no peito, carregar galos e chaves do Céu, peixes e coisas assim. Claro que há campanários por toda a parte, com cruzes em cima, colocadas em pontos estratégicos da cidade. No cimo daquela colina podem ver um fulano barbudo,de pálpebras semi-cerradas e em camisa de noite, com os braços abertos. Mede cerca de setenta metros, um exagero para um monumento à candura do sonambulismo e do Inconsciente de Freud,ou tratar-se-á de um campeão de natação, por estar ao pé do rio? E, agora, podem descer do autocarro e ir beber umas cervejas naquela tasca que existe desde o Séc. XVII, enquanto os miúdos jogam «Massacre», ou «Exterminio Total» no computador. Se olharem para o decote da empregada, e repararem na cruz, a balançar entre as duas suaves curvas na gola de renda, não se lembrem do «Manual de maus costumes» da Bíblia, nem tentem arrancar-lhe a cruz porque se ele traz vinte cervejas de cada vez, já houve quem a visse com três turistas engraçadinhos, debaixo do braço. É tudo um erro de percepção, como as receitas do Psiquiatra militar Nidal Malik Hassan.São as vossas caras que ficam mal na fotografia e há que fazer uma operação estética.Quando mudarem as vossas caras que podem traumatizar os meninos da escola,o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem terá também mudado já, o seu nome, para Tribunal do Juízo Universal.Se falharem a visita da sede desse baluarte da Liberdade e da Democracia, com um triângulo de quatro lados em cima,poderão dizer, sem preocupações: «Oh, que pena! Perdemos o Juízo!"
Ora vamos bem analisar o programa de uma excursão da escola dos nossos filhos, em que os podemos acompanhar. Os miúdos vão ver uma cidade europeia. Passem por aquela praça e está lá uma cruz, em cima do fontanário. A seguir, eles verão o cimo daquelas ruas com estátuas, algumas delas com cruzes. As estátuas estão com «gestos cristãos», como olhar para o céu, meter a mão no peito, carregar galos e chaves do Céu, peixes e coisas assim. Claro que há campanários por toda a parte, com cruzes em cima, colocadas em pontos estratégicos da cidade. No cimo daquela colina podem ver um fulano barbudo,de pálpebras semi-cerradas e em camisa de noite, com os braços abertos. Mede cerca de setenta metros, um exagero para um monumento à candura do sonambulismo e do Inconsciente de Freud,ou tratar-se-á de um campeão de natação, por estar ao pé do rio? E, agora, podem descer do autocarro e ir beber umas cervejas naquela tasca que existe desde o Séc. XVII, enquanto os miúdos jogam «Massacre», ou «Exterminio Total» no computador. Se olharem para o decote da empregada, e repararem na cruz, a balançar entre as duas suaves curvas na gola de renda, não se lembrem do «Manual de maus costumes» da Bíblia, nem tentem arrancar-lhe a cruz porque se ele traz vinte cervejas de cada vez, já houve quem a visse com três turistas engraçadinhos, debaixo do braço. É tudo um erro de percepção, como as receitas do Psiquiatra militar Nidal Malik Hassan.São as vossas caras que ficam mal na fotografia e há que fazer uma operação estética.Quando mudarem as vossas caras que podem traumatizar os meninos da escola,o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem terá também mudado já, o seu nome, para Tribunal do Juízo Universal.Se falharem a visita da sede desse baluarte da Liberdade e da Democracia, com um triângulo de quatro lados em cima,poderão dizer, sem preocupações: «Oh, que pena! Perdemos o Juízo!"
Wednesday, November 4, 2009
XXXIX - (Re)leituras - Raça e História, de Claude Lévi-Strauss, por André Bandeira
De Bruxelas, vale de tempestades, para o Brasil, terra de Vera Cruz. Lévi-Strauss fez esse caminho antes de sair do armário, que, no seu tempo, queria dizer tomar posições públicas por ideais públicos e não por miasmas individuais. Claude -- vou chamar-lhe assim -- morreu em silêncio antes que alguém o pudesse convidar para um concurso televisivo de longevidade ou, talvez, para dissertar sobre o direito ao testamento vital. Mandou depois um bilhete postal aos percursores bonitões das futuras câmaras de gaz. Claude era um judeu de Bruxelas, askhenazi que, saído da narrativa de maus costumes que foi o laboratório efervescente da Humanidade no Médio-Oriente (com um relatório parcial na Bíblia) se apercebeu da noite negra em que caíu o nosso espírito. Tomou, em plena época de premeditação assassina na Europa, a década de 30, a missão de exercer a influência francesa, racionalista, num país que ainda fardava os seus soldados à francesa.Como um século antes, o Arquitecto Montigny e o pintor Taunay. E chegou ao Brasil, foi ao Amazonas, decretou do alto da sua seriedade, o fim do termo «selvagem», porque encontrou índios que pouco tinham disso, graças a uma História que Paris ignorava e que não esperou por antropólogos de Paris para prosseguir. E fê-lo como se estivesse sempre dentro de um quarto, com livros, constatando e declarando sem pestanejar. A França, que fora derrotada ao lado da Confederação dos Estados do Sul, nos EUA, disputava agora a sua influência no Sul, com antropólogas norte-americanas de pouca lisura, como Ruth Benedict e Margaret Mead, ou fundadores como Boas e Malinowski. Claude atravessou a Segunda-Guerra mundial sem ser gazeado e emergiu com a sua Antropologia estrutural, que subdividia uma ideia académica em partes e depois somava-as para a voltar a repetir. Como Freud e outros, o seu número extenso de dados, corroborou uma teoria pré-definida. Mas, ao não-colaboracionista Claude, sobrou-lhe bom-senso. Quando foi chamado a discursar nas Nações Unidas sobre a Raça e a História, claro que deu testemunho de que não existem raças mas disse muito claramente, como lhe tinham ensinado milhares de picadelas de mosquitos tropicais e carrapatos europeus, que é um erro transferir culturas para meio de outras culturas, as quais se guerreiam forçosamente, quando obrigadas à promiscuidade. Tentaram vendê-lo como mais um padrinho da Revolução. Enganaram-se.Ele não foi, nem podia ser, porque nunca se pretendeu candidatar ao Parlamento europeu ou mundial -- ideia que certamente ignoraria -- um defensor da sociedade multicultural. O seu discurso Raça e História foi publicado e traduzido. Poucos o leram com atenção e os campeões da sanha libertacionista anti-colonial, que o ouviram discursar, protestaram exasperados. Mas Claude disse. E não se desdisse.
XXXIX - (Re)leituras - Raça e História, de Claude Lévi-Strauss, por André Bandeira
De Bruxelas, vale de tempestades, para o Brasil, terra de Vera Cruz. Lévi-Strauss fez esse caminho antes de sair do armário, que, no seu tempo, queria dizer tomar posições públicas por ideais públicos e não por miasmas individuais. Claude -- vou chamar-lhe assim -- morreu em silêncio antes que alguém o pudesse convidar para um concurso televisivo de longevidade ou, talvez, para dissertar sobre o direito ao testamento vital. Mandou depois um bilhete postal aos percursores bonitões das futuras câmaras de gaz. Claude era um judeu de Bruxelas, askhenazi que, saído da narrativa de maus costumes que foi o laboratório efervescente da Humanidade no Médio-Oriente (com um relatório parcial na Bíblia) se apercebeu da noite negra em que caíu o nosso espírito. Tomou, em plena época de premeditação assassina na Europa, a década de 30, a missão de exercer a influência francesa, racionalista, num país que ainda fardava os seus soldados à francesa.Como um século antes, o Arquitecto Montigny e o pintor Taunay. E chegou ao Brasil, foi ao Amazonas, decretou do alto da sua seriedade, o fim do termo «selvagem», porque encontrou índios que pouco tinham disso, graças a uma História que Paris ignorava e que não esperou por antropólogos de Paris para prosseguir. E fê-lo como se estivesse sempre dentro de um quarto, com livros, constatando e declarando sem pestanejar. A França, que fora derrotada ao lado da Confederação dos Estados do Sul, nos EUA, disputava agora a sua influência no Sul, com antropólogas norte-americanas de pouca lisura, como Ruth Benedict e Margaret Mead, ou fundadores como Boas e Malinowski. Claude atravessou a Segunda-Guerra mundial sem ser gazeado e emergiu com a sua Antropologia estrutural, que subdividia uma ideia académica em partes e depois somava-as para a voltar a repetir. Como Freud e outros, o seu número extenso de dados, corroborou uma teoria pré-definida. Mas, ao não-colaboracionista Claude, sobrou-lhe bom-senso. Quando foi chamado a discursar nas Nações Unidas sobre a Raça e a História, claro que deu testemunho de que não existem raças mas disse muito claramente, como lhe tinham ensinado milhares de picadelas de mosquitos tropicais e carrapatos europeus, que é um erro transferir culturas para meio de outras culturas, as quais se guerreiam forçosamente, quando obrigadas à promiscuidade. Tentaram vendê-lo como mais um padrinho da Revolução. Enganaram-se.Ele não foi, nem podia ser, porque nunca se pretendeu candidatar ao Parlamento europeu ou mundial -- ideia que certamente ignoraria -- um defensor da sociedade multicultural. O seu discurso Raça e História foi publicado e traduzido. Poucos o leram com atenção e os campeões da sanha libertacionista anti-colonial, que o ouviram discursar, protestaram exasperados. Mas Claude disse. E não se desdisse.
Saturday, October 31, 2009
XXXVIII - (Re)Leituras - Conversas com Filósofos Brasileiros, de Marcos Nobre e José Márcio Rego, por André Bandeira
Quando leio este livro, compreendo porque é que Braz Teixeira considera tanto Tobias Barreto de Menezes, um filósofo mameluco (crioulo), nordestino, do Séc. XIX. Barreto testemunhou com a sua vida o que pensou e escreveu. Os filósofos deste livro, todos vivos à data da publicação do livro (2000), certamente que testemunham mas não sei se todos o fazem em relação ao que pensam. Noto com graça o diferendo pessoal entre Giannotti e Ruy Fausto,notando previamente que Giannotti vê na «filosofia brasileira» uma forma de resistência a influências estrangeiras que contradizem a experiência quotidiana do Brasil e a sensibilidade de Ruy Fausto, que é sobretudo um triunfo sobre uma existência épica. Simpatizo muito com a humildade de Leandro Konder, o que há de melhor num alemão tropical, nomeadamente quando dizia que militava com os comunistas, porque era normal, mas achava-os todos esquisitos. Mas de filosofia estamos falados: o mais covincente é mesmo Oswaldo Porchat, com o seu neo-pirronismo, porque sinto nele uma iluminação semperviva, a mesma que sustentará Diógenes de Halicarnasso, em qualquer lugar, em qualquer época. Ao começo, vejo a sombra do padre Lima Vaz e não posso deixar de pensar que também há legitimidade divina no gládio temporal, não apenas no espiritual. Só me resta mesmo Marilena Chauí. Lida aqui e em outras obras,esta filósofa filha de integralistas e que punha muitas perguntas, recebeu muitas respostas.Pediu Ordem e teve-a. A sua interpretação de Espinosa, monumental, só dignifica o filósofo português que viveu numa época sangrenta. Mas o espinosimo, aplicado hoje, é uma laranja mecânica,e revela a democracia como a ditadura do Povo. O drama da libertação pessoal de Espinosa obscurece a responsabilidade pessoal pela sociedade inteira de quem a pessoa, e não a sociedade, é o genótipo.Se, para isso, me despeço do Deus da Bíblia e entro na mistificação cristã, nem por isso me submeto ao gládio do padre Lima Vaz. Marilena continuará indefinidamente, como o Departamento francês ultramarino do Brasil. E fico-me a pensar se o diagnóstico marxista do capitalismo, depois de durar tanto tempo sem aplicar terapêutica de jeito, não será uma mistificação que, além de assassinar inocentes pobres, assassina empresários com princípios que sabem que a sua propriedade é o ganha-pão de muita gente enquanto não chega a Revolução mundial.
XXXVIII - (Re)Leituras - Conversas com Filósofos Brasileiros, de Marcos Nobre e José Márcio Rego, por André Bandeira
Quando leio este livro, compreendo porque é que Braz Teixeira considera tanto Tobias Barreto de Menezes, um filósofo mameluco (crioulo), nordestino, do Séc. XIX. Barreto testemunhou com a sua vida o que pensou e escreveu. Os filósofos deste livro, todos vivos à data da publicação do livro (2000), certamente que testemunham mas não sei se todos o fazem em relação ao que pensam. Noto com graça o diferendo pessoal entre Giannotti e Ruy Fausto,notando previamente que Giannotti vê na «filosofia brasileira» uma forma de resistência a influências estrangeiras que contradizem a experiência quotidiana do Brasil e a sensibilidade de Ruy Fausto, que é sobretudo um triunfo sobre uma existência épica. Simpatizo muito com a humildade de Leandro Konder, o que há de melhor num alemão tropical, nomeadamente quando dizia que militava com os comunistas, porque era normal, mas achava-os todos esquisitos. Mas de filosofia estamos falados: o mais covincente é mesmo Oswaldo Porchat, com o seu neo-pirronismo, porque sinto nele uma iluminação semperviva, a mesma que sustentará Diógenes de Halicarnasso, em qualquer lugar, em qualquer época. Ao começo, vejo a sombra do padre Lima Vaz e não posso deixar de pensar que também há legitimidade divina no gládio temporal, não apenas no espiritual. Só me resta mesmo Marilena Chauí. Lida aqui e em outras obras,esta filósofa filha de integralistas e que punha muitas perguntas, recebeu muitas respostas.Pediu Ordem e teve-a. A sua interpretação de Espinosa, monumental, só dignifica o filósofo português que viveu numa época sangrenta. Mas o espinosimo, aplicado hoje, é uma laranja mecânica,e revela a democracia como a ditadura do Povo. O drama da libertação pessoal de Espinosa obscurece a responsabilidade pessoal pela sociedade inteira de quem a pessoa, e não a sociedade, é o genótipo.Se, para isso, me despeço do Deus da Bíblia e entro na mistificação cristã, nem por isso me submeto ao gládio do padre Lima Vaz. Marilena continuará indefinidamente, como o Departamento francês ultramarino do Brasil. E fico-me a pensar se o diagnóstico marxista do capitalismo, depois de durar tanto tempo sem aplicar terapêutica de jeito, não será uma mistificação que, além de assassinar inocentes pobres, assassina empresários com princípios que sabem que a sua propriedade é o ganha-pão de muita gente enquanto não chega a Revolução mundial.
Thursday, October 29, 2009
Friday, October 23, 2009
XXXVII (Re)leituras - Um «Fausto» de Saramago, por André Bandeira
Li «Cem Anos de solidão». Era um romance maravilhoso a que chamaram de «realismo fantástico». Tendo sido escrito por um homem muito culto e artista, fiquei durante uns tempos a pensar que passara a haver uma forma de falarmos das coisas a direito, sem nos dotarmos, antes, de uma linguagem certificada. Saramago, se calhar, pensou o mesmo. E pensou de tal maneira que achou que podia tratar também a Bíblia como «realismo fantástico». A linguagem antiquíssima da Bíblia passou a ser explícita como um comunicado político ou um anúncio das «Páginas Amarelas» e o que era símbolo passou de realidade fantástica, para uma noite sem dormir. Um pouco como se o que foi escrito nos hieroglifos egípcios fosse título de jornal e a raiva militante nos levasse a crer que, em vez do faraó, estavam a falar do Presidente, ou de mim próprio.Com o tempo, com o escavamento de civilizações mais antigas e o aprofundamento, quer da tecnologia, quer da linguagem dos animais, poderemos talvez tratar como «realismo fantástico», qualquer texto ou comportamento.Alguns textos de Física e Astronomia têm já esse carácter. Mas, aqui, faltam-me as palavras (parece que «neve» é dita de muitos modos por um «esquimó»). Vi também a amostra de debate entre o Padre especialista da Bíblia, Carreira das Neves, e Saramago, para perceber que o Padre, honesto e cortês, não se soube defender. Nesse mesmo dia conheci um missionário católico que trabalha há trinta e três anos numa região longínqua onde muitas pessoas estão mais ou menos condenadas a prazo por uma doença terrível, inclusive ele. Este missionário citou várias vezes a Bíblia e não tinha e-mail.Honestamente, não vou ter tempo para ler «Caim» e Saramago está para a Internet como Júlio Dantas para Almada Negreiros. Mesmo desculpando-se por uma linguagem rude que não o levou a retirar o livros das bancas e corrigi-los,Saramago lembra um Fausto fugindo duma sombra que lhe mostra um pacto assinado a sangue. E, aqui,o vulto cultural de Saramago entra no seu próprio realismo fantástico. Nesse mesmo dia percebi também que o missionário que conheci continuou a escrever a Bíblia, durante trinta e três anos, numa escrita que Saramago pode só vir a entender tarde demais.A escrita era realista.Se havia algo fantástico, era o Silêncio que se impôs a seguir.
XXXVII (Re)leituras - Um «Fausto» de Saramago, por André Bandeira
Li «Cem Anos de solidão». Era um romance maravilhoso a que chamaram de «realismo fantástico». Tendo sido escrito por um homem muito culto e artista, fiquei durante uns tempos a pensar que passara a haver uma forma de falarmos das coisas a direito, sem nos dotarmos, antes, de uma linguagem certificada. Saramago, se calhar, pensou o mesmo. E pensou de tal maneira que achou que podia tratar também a Bíblia como «realismo fantástico». A linguagem antiquíssima da Bíblia passou a ser explícita como um comunicado político ou um anúncio das «Páginas Amarelas» e o que era símbolo passou de realidade fantástica, para uma noite sem dormir. Um pouco como se o que foi escrito nos hieroglifos egípcios fosse título de jornal e a raiva militante nos levasse a crer que, em vez do faraó, estavam a falar do Presidente, ou de mim próprio.Com o tempo, com o escavamento de civilizações mais antigas e o aprofundamento, quer da tecnologia, quer da linguagem dos animais, poderemos talvez tratar como «realismo fantástico», qualquer texto ou comportamento.Alguns textos de Física e Astronomia têm já esse carácter. Mas, aqui, faltam-me as palavras (parece que «neve» é dita de muitos modos por um «esquimó»). Vi também a amostra de debate entre o Padre especialista da Bíblia, Carreira das Neves, e Saramago, para perceber que o Padre, honesto e cortês, não se soube defender. Nesse mesmo dia conheci um missionário católico que trabalha há trinta e três anos numa região longínqua onde muitas pessoas estão mais ou menos condenadas a prazo por uma doença terrível, inclusive ele. Este missionário citou várias vezes a Bíblia e não tinha e-mail.Honestamente, não vou ter tempo para ler «Caim» e Saramago está para a Internet como Júlio Dantas para Almada Negreiros. Mesmo desculpando-se por uma linguagem rude que não o levou a retirar o livros das bancas e corrigi-los,Saramago lembra um Fausto fugindo duma sombra que lhe mostra um pacto assinado a sangue. E, aqui,o vulto cultural de Saramago entra no seu próprio realismo fantástico. Nesse mesmo dia percebi também que o missionário que conheci continuou a escrever a Bíblia, durante trinta e três anos, numa escrita que Saramago pode só vir a entender tarde demais.A escrita era realista.Se havia algo fantástico, era o Silêncio que se impôs a seguir.
Wednesday, October 21, 2009
XXXVI (Re)leituras - A Bíblia, de autor anónimo, por André Bandeira
Veio a primeira neve na Serra da Estrêla, em Portugal.A neve, que é muito branca e pura. E que cai sempre como uma página se enche de letras, ou uma folha branca se enche de traços, os quais -- diz-se -- tentam imitar a Natureza. E volta a escrever-se, cada Inverno.Um dia li a Bíblia numa semana e pouco percebi. Demorei anos, mais tarde, tive de aprender línguas antigas para voltar a ler algumas partes dela e percebê-las. Na verdade, penso tê-las percebido mas há mil maneiras de dizer a mesma coisa como os flocos de neve caiem sobre o chão, sempre de modo diferente e dão sempre a mesma brancura,fonte de luz inesperada quando os nossos olhos pesavam. Gostava de ser Hamish e ler a Bíblia de tal modo que quando entrassem na minha aldeia onde me refugiei, num instante de piedade da Natureza cruel, e começassem a estuprar as minhas crianças inocentes, eu fosse ainda capaz de-- uma vez passada a momentânea tortura -- de recolher esmola para a família das vítimas e para a viúva do assassino. E dizer isso, como a neve cai, santa e pura. Sim, agradeço a Bíblia em que me exercitei a ler, quando já tinha aprendido a ler, nas estrêlas, nos jornais, nos computadores, nos Tratados e nas linhas da mão. Agradeço o Deus vingativo, cruel e de mau carácter que o Homem fez à sua imagem só para que o Homem se pudesse ver como era e os traços negros da imagem se fossem acumulando, subissem no ar e condensassem a neve, que finalmente cai branca e pura.Nem Jesus, de quem alguém disse ter falido, muito antes dos céus se abrirem,pôde deixar de dizer, antes de entrar no enrêdo da Bíblia «Pai, se puderes afastar de mim este cálice...», para concluir, quase sem forças, «Mas faça-se a Tua vontade». Posso imaginar homens antigos, de muitos tempos, urgidos pela Morte que sempre avança nos subúrbios da cidade, tentando arranjar um sentido definido nas palavras que pronunciavam. Sim, é como medir o Universo pelo avanço que o atleta Aquiles dá à tartaruga, ou recordar uma bela noite estrelada de Verão pelos sons de umas anedotas que alguém ainda tenta contar ao fim de uma festa. E, no meio dessa escuridão imensa que começa nos subúrbios da cidade, onde os soldados ainda combatem -- que é uma escuridão apenas porque me pesam as pálpebras ao pensá-la -- a neve volta a cair, branca e pura, como as notas de uma música, os preparativos do pescador, os balidos de uma ovelha nascida de madrugada. E o chão se torna branco, mais uma vez, mesmo se me vem o arrepio da súbita lembrança de alguém que sofre ou está a morrer. Quem diria -- pergunto-me -- que as partículas escuras voando em redemoínho,e subindo no ar, provocariam esta brancura? Bom dia, irmã neve, que nunca te esqueces.
XXXVI (Re)leituras - A Bíblia, de autor anónimo, por André Bandeira
Veio a primeira neve na Serra da Estrêla, em Portugal.A neve, que é muito branca e pura. E que cai sempre como uma página se enche de letras, ou uma folha branca se enche de traços, os quais -- diz-se -- tentam imitar a Natureza. E volta a escrever-se, cada Inverno.Um dia li a Bíblia numa semana e pouco percebi. Demorei anos, mais tarde, tive de aprender línguas antigas para voltar a ler algumas partes dela e percebê-las. Na verdade, penso tê-las percebido mas há mil maneiras de dizer a mesma coisa como os flocos de neve caiem sobre o chão, sempre de modo diferente e dão sempre a mesma brancura,fonte de luz inesperada quando os nossos olhos pesavam. Gostava de ser Hamish e ler a Bíblia de tal modo que quando entrassem na minha aldeia onde me refugiei, num instante de piedade da Natureza cruel, e começassem a estuprar as minhas crianças inocentes, eu fosse ainda capaz de-- uma vez passada a momentânea tortura -- de recolher esmola para a família das vítimas e para a viúva do assassino. E dizer isso, como a neve cai, santa e pura. Sim, agradeço a Bíblia em que me exercitei a ler, quando já tinha aprendido a ler, nas estrêlas, nos jornais, nos computadores, nos Tratados e nas linhas da mão. Agradeço o Deus vingativo, cruel e de mau carácter que o Homem fez à sua imagem só para que o Homem se pudesse ver como era e os traços negros da imagem se fossem acumulando, subissem no ar e condensassem a neve, que finalmente cai branca e pura.Nem Jesus, de quem alguém disse ter falido, muito antes dos céus se abrirem,pôde deixar de dizer, antes de entrar no enrêdo da Bíblia «Pai, se puderes afastar de mim este cálice...», para concluir, quase sem forças, «Mas faça-se a Tua vontade». Posso imaginar homens antigos, de muitos tempos, urgidos pela Morte que sempre avança nos subúrbios da cidade, tentando arranjar um sentido definido nas palavras que pronunciavam. Sim, é como medir o Universo pelo avanço que o atleta Aquiles dá à tartaruga, ou recordar uma bela noite estrelada de Verão pelos sons de umas anedotas que alguém ainda tenta contar ao fim de uma festa. E, no meio dessa escuridão imensa que começa nos subúrbios da cidade, onde os soldados ainda combatem -- que é uma escuridão apenas porque me pesam as pálpebras ao pensá-la -- a neve volta a cair, branca e pura, como as notas de uma música, os preparativos do pescador, os balidos de uma ovelha nascida de madrugada. E o chão se torna branco, mais uma vez, mesmo se me vem o arrepio da súbita lembrança de alguém que sofre ou está a morrer. Quem diria -- pergunto-me -- que as partículas escuras voando em redemoínho,e subindo no ar, provocariam esta brancura? Bom dia, irmã neve, que nunca te esqueces.
Monday, October 19, 2009
XXXV- (Re)leituras - Um Imenso Portugal, de Evaldo Cabral de Mello, por André Bandeira
Eis um livro, composto de artigos de Imprensa, que apontam para tantos horizontes na História, que até parece grosseiro fazer uma recensão. Mesmo assim, o título, voluntariamente tirado a uma canção de Chico Buarque, obriga um ouvido duro a cantarolá-la por distracção a cada página. Cabral de Mello defende que o destino do Nordeste brasileiro, antes e depois de 1640, permitiu um Portugal independente e, este último, por existir, permitiu a independência do Brasil.Depois, diz que o nacionalismo brasileiro apareceu por causa da independência e não ao contrário. Devo dizer que estas estradas profundas num Passado não muito longínquo (afinal, Hobbes e o Estado leviatânico são bem actuais)emergem de repente para dar uma resposta a termos e palavras que se nos impõem como enigmas. Não digo que o livro ande atrás de slogans criados por publicitários, apresentados sob a forma de charadas que nos vemos a resolver, ao guiar o automóvel ou a preparar o pequeno-almoço. Mas noto que certos paradoxos são como cortar a madeira dum lado e do outro da ponta do lápis, até fazê-lo tão aguçado que já não é mais um lápis, tornou-se um espêto.Como o livro, parecendo de História, se transforma num livro de política pura, não é difícil de imaginar uma História de Sherlock Holmes em que o Historiador aparece assassinado sobre a secretária com um lápis enfiado no coração. Como descobrir o culpado? Eliminado os suspeitos. Se Portugal fosse imenso, não seria Portugal, como não é português o «mar sem fim»,pois nem o mar, nem a terra antiga foram alguma vez fechados e os gregos e os romanos arruinaram-se ao querer fechá-los. O nacionalismo brasileiro não é português. A nova História fá-la-ão as pessoas com as suas estórias, mesmo aquelas que vieram de muito longe, tão longe quanto o calendário longo dos Maias e que pareciam aos marinheiros velozes, ilhas paradas na torrente, ou escravos de olhos apáticos. O autor é capaz de concordar comigo quando diz que falta fazer a História do Homem Negro no Brasil.Como viu o Escravo, o Grande Êxodo para Ocidente? Talvez um dia se encontrem os períodos duma «História» espiritual e possamos, enfim, passar a floresta dos vodus e dos feitiços, fazendo pousar finalmente as duas mãos do Cristo redentor, uma sobre a outra.
XXXV- (Re)leituras - Um Imenso Portugal, de Evaldo Cabral de Mello, por André Bandeira
Eis um livro, composto de artigos de Imprensa, que apontam para tantos horizontes na História, que até parece grosseiro fazer uma recensão. Mesmo assim, o título, voluntariamente tirado a uma canção de Chico Buarque, obriga um ouvido duro a cantarolá-la por distracção a cada página. Cabral de Mello defende que o destino do Nordeste brasileiro, antes e depois de 1640, permitiu um Portugal independente e, este último, por existir, permitiu a independência do Brasil.Depois, diz que o nacionalismo brasileiro apareceu por causa da independência e não ao contrário. Devo dizer que estas estradas profundas num Passado não muito longínquo (afinal, Hobbes e o Estado leviatânico são bem actuais)emergem de repente para dar uma resposta a termos e palavras que se nos impõem como enigmas. Não digo que o livro ande atrás de slogans criados por publicitários, apresentados sob a forma de charadas que nos vemos a resolver, ao guiar o automóvel ou a preparar o pequeno-almoço. Mas noto que certos paradoxos são como cortar a madeira dum lado e do outro da ponta do lápis, até fazê-lo tão aguçado que já não é mais um lápis, tornou-se um espêto.Como o livro, parecendo de História, se transforma num livro de política pura, não é difícil de imaginar uma História de Sherlock Holmes em que o Historiador aparece assassinado sobre a secretária com um lápis enfiado no coração. Como descobrir o culpado? Eliminado os suspeitos. Se Portugal fosse imenso, não seria Portugal, como não é português o «mar sem fim»,pois nem o mar, nem a terra antiga foram alguma vez fechados e os gregos e os romanos arruinaram-se ao querer fechá-los. O nacionalismo brasileiro não é português. A nova História fá-la-ão as pessoas com as suas estórias, mesmo aquelas que vieram de muito longe, tão longe quanto o calendário longo dos Maias e que pareciam aos marinheiros velozes, ilhas paradas na torrente, ou escravos de olhos apáticos. O autor é capaz de concordar comigo quando diz que falta fazer a História do Homem Negro no Brasil.Como viu o Escravo, o Grande Êxodo para Ocidente? Talvez um dia se encontrem os períodos duma «História» espiritual e possamos, enfim, passar a floresta dos vodus e dos feitiços, fazendo pousar finalmente as duas mãos do Cristo redentor, uma sobre a outra.
Saturday, October 17, 2009
A Bit of Spotty Bother - 1896 style
I spotted something really bizarre in the short film "A Nightmare"/"Le Cauchemar" from 1896 by Georges Méliès. You can read a summary of this very short film here or here, or watch it on one of the great Georges Méliès DVDs. (I watched it on this one.)
The crazy thing I found is, in the final scene, when we cut back to the original bedroom, Méliès' groin area is hand-blacked out by spotty marks. I am not trying to be a wise guy. You can see it in the last screen grab in this rotten tomatoes review. Here is the photo for convenience:
(click to enlarge)
But it is even more evident when you watch it on DVD, especially if your DVD player has a zoom feature, because the black dots are clearly hand-drawn on every frame—they hop around erratically (almost like they're animated...!). In the prior scene, this character had jumped around acrobatically, and possibly this is where some piece of fabric came loose. They had to do a camera stop where the actor (Georges Méliès himself) froze in position on the bed while the set is changed around him. In the finished film it is jump-cut together so that the background disappears instantly and he is awakened from his nightmare, back in his bedroom.
He is wearing sleeping underclothes, and maybe one of these two scenarios occurred: 1) Out of propriety, an exhibitor from way back when, or someone who owned the film print at some point in history, blacked it out because maybe there was a bulge they found offensive 2) Méliès (or his team) blacked it out on all prints (or the negative) because his flap had accidentally fallen open, leaving him exposed.
If it's the latter, you may ask, why wouldn't they reshoot? If you look at how exactly the match cut is of his body position between these scenes, perhaps this was the preferred solution (the screen grabs here don't show this—you have to watch the film). This is 1896, and Méliès is discovering and mastering new film techniques, and my guess is that replicating this special effect cut may have been daunting compared with simply blacking out the offending region. He had to freeze himself in a very awkward position (legs in the air) in the bed while his crew rearranged the set, until they turned the camera back on.
It was apparently quite hurried because you can see the remnant of the prior "nightmare" set on the right of screen which has not been properly covered up by the new set. Compare the before and after shots below. The bed (looks like a wheelbarrow) is in the exact same position in the frame, and the remnant of the first set is visible on the right side in the second frame grab.


Some film historian should be put to work to answer this important question! For instance, if all the existing film prints have this blacking out, then it likely originates in the negative. But if there is a "clean" print out there, then we can look at what was blacked out and make a guess as to why.
The crazy thing I found is, in the final scene, when we cut back to the original bedroom, Méliès' groin area is hand-blacked out by spotty marks. I am not trying to be a wise guy. You can see it in the last screen grab in this rotten tomatoes review. Here is the photo for convenience:

But it is even more evident when you watch it on DVD, especially if your DVD player has a zoom feature, because the black dots are clearly hand-drawn on every frame—they hop around erratically (almost like they're animated...!). In the prior scene, this character had jumped around acrobatically, and possibly this is where some piece of fabric came loose. They had to do a camera stop where the actor (Georges Méliès himself) froze in position on the bed while the set is changed around him. In the finished film it is jump-cut together so that the background disappears instantly and he is awakened from his nightmare, back in his bedroom.
He is wearing sleeping underclothes, and maybe one of these two scenarios occurred: 1) Out of propriety, an exhibitor from way back when, or someone who owned the film print at some point in history, blacked it out because maybe there was a bulge they found offensive 2) Méliès (or his team) blacked it out on all prints (or the negative) because his flap had accidentally fallen open, leaving him exposed.
If it's the latter, you may ask, why wouldn't they reshoot? If you look at how exactly the match cut is of his body position between these scenes, perhaps this was the preferred solution (the screen grabs here don't show this—you have to watch the film). This is 1896, and Méliès is discovering and mastering new film techniques, and my guess is that replicating this special effect cut may have been daunting compared with simply blacking out the offending region. He had to freeze himself in a very awkward position (legs in the air) in the bed while his crew rearranged the set, until they turned the camera back on.
It was apparently quite hurried because you can see the remnant of the prior "nightmare" set on the right of screen which has not been properly covered up by the new set. Compare the before and after shots below. The bed (looks like a wheelbarrow) is in the exact same position in the frame, and the remnant of the first set is visible on the right side in the second frame grab.


Some film historian should be put to work to answer this important question! For instance, if all the existing film prints have this blacking out, then it likely originates in the negative. But if there is a "clean" print out there, then we can look at what was blacked out and make a guess as to why.
Wednesday, October 14, 2009
XXXIV - (Re)leituras - 1491- New Revelations of the Americas Before Columbus, de Charles C. Mann, por André Bandeira
Depois de ler este livro de 2005, concluo que, se tivesse que dar um primeiro nome ao Género Humano, lhe chamaria «desajeitado». Como eu. Este livro, de um jornalista de Ciência norte-americano, corresponde à moda,aflitiva, entre vários americanos, de se considerarem «índios», contra o resto do Mundo, depois de terem, por distracção ou deliberadamente, massacrado os índios reais.Depois de quase provar que, antes da Civilização mediterrânica, o Novo Mundo era muito mais povoado e histórico, quer dizer, mais velho, o livro faz-se de jovem, dando a entender que muitos dos mistérios a resolver pela humanidade residem nesta ciência nova do novo Mundo. Linguística, Ecologia, Matemática, vieram ao Mundo, no Novo. E o Novo Mundo, apesar de patentear as asneiras de todo o resto da Humanidade, cometeu-as ao mesmo tempo, mas a solo e, por isso, sobreviver-lhes-á. Por exemplo, o moderno conceito de Liberdade foi copiado dos iroqueses do Canadá e levanta a hipótese de que o elo perdido entre as formas mais arcaicas de cultura e as mais modernas, ficou a pairar no corredor americano, da Antártida ao Árctico, como o arco-íris.Enfim, é como redescobrir a Índia por Ocidente -- em vez de a «achar»,como diziam sempre os marinheiros portugueses.No meio de querelas científicas e políticas, o autor faz um bom jornalismo vespertino, em que o dia começa em 1491.Mas ficamos insatisfeitos. Se é verdade que a notícia da História ter acabado, foi exagerada e há muitos mais mundos para além da Democracia ( uma forma de aristocracia das assembleias,baptizada na Grécia), os quais nasceram há milénios e se estão a desenvolver em mundos coexistentes, também é certo que a História é tanta quantas as vidas humanas que a inventam. E, nisto, continuamos num poço a contar pedrinhas,sem rezar.
O livro faz ainda uma manchette: a Amazónia é uma invenção dos índios. Só se formos índios -- o autor hesita -- poderemos salvar as Amazónias do Mundo. Mas não há «índios», nem na Índia e «prêtos»,há alguns olhos, como «brancos», alguns flocos de neve e amarelos alguns girassóis.Há extraterrestres a rodar no meu gira-discos.
O livro faz ainda uma manchette: a Amazónia é uma invenção dos índios. Só se formos índios -- o autor hesita -- poderemos salvar as Amazónias do Mundo. Mas não há «índios», nem na Índia e «prêtos»,há alguns olhos, como «brancos», alguns flocos de neve e amarelos alguns girassóis.Há extraterrestres a rodar no meu gira-discos.
XXXIV - (Re)leituras - 1491- New Revelations of the Americas Before Columbus, de Charles C. Mann, por André Bandeira
Depois de ler este livro de 2005, concluo que, se tivesse que dar um primeiro nome ao Género Humano, lhe chamaria «desajeitado». Como eu. Este livro, de um jornalista de Ciência norte-americano, corresponde à moda,aflitiva, entre vários americanos, de se considerarem «índios», contra o resto do Mundo, depois de terem, por distracção ou deliberadamente, massacrado os índios reais.Depois de quase provar que, antes da Civilização mediterrânica, o Novo Mundo era muito mais povoado e histórico, quer dizer, mais velho, o livro faz-se de jovem, dando a entender que muitos dos mistérios a resolver pela humanidade residem nesta ciência nova do novo Mundo. Linguística, Ecologia, Matemática, vieram ao Mundo, no Novo. E o Novo Mundo, apesar de patentear as asneiras de todo o resto da Humanidade, cometeu-as ao mesmo tempo, mas a solo e, por isso, sobreviver-lhes-á. Por exemplo, o moderno conceito de Liberdade foi copiado dos iroqueses do Canadá e levanta a hipótese de que o elo perdido entre as formas mais arcaicas de cultura e as mais modernas, ficou a pairar no corredor americano, da Antártida ao Árctico, como o arco-íris.Enfim, é como redescobrir a Índia por Ocidente -- em vez de a «achar»,como diziam sempre os marinheiros portugueses.No meio de querelas científicas e políticas, o autor faz um bom jornalismo vespertino, em que o dia começa em 1491.Mas ficamos insatisfeitos. Se é verdade que a notícia da História ter acabado, foi exagerada e há muitos mais mundos para além da Democracia ( uma forma de aristocracia das assembleias,baptizada na Grécia), os quais nasceram há milénios e se estão a desenvolver em mundos coexistentes, também é certo que a História é tanta quantas as vidas humanas que a inventam. E, nisto, continuamos num poço a contar pedrinhas,sem rezar.
O livro faz ainda uma manchette: a Amazónia é uma invenção dos índios. Só se formos índios -- o autor hesita -- poderemos salvar as Amazónias do Mundo. Mas não há «índios», nem na Índia e «prêtos»,há alguns olhos, como «brancos», alguns flocos de neve e amarelos alguns girassóis.Há extraterrestres a rodar no meu gira-discos.
O livro faz ainda uma manchette: a Amazónia é uma invenção dos índios. Só se formos índios -- o autor hesita -- poderemos salvar as Amazónias do Mundo. Mas não há «índios», nem na Índia e «prêtos»,há alguns olhos, como «brancos», alguns flocos de neve e amarelos alguns girassóis.Há extraterrestres a rodar no meu gira-discos.
Il generale della Rovere (1959, Rossellini) - review

Roberto Rossellini can be newly appreciated these days thanks to the appearance of a wide variety of his films on DVD—including several that I think were not available on VHS. He seems to have lagged behind other major directors in getting his work represented on DVD—and still many of his most significant works are not available. I find myself in the position of having neglected him in favor of other directors, such as those of the Nouvelle Vague and the other Italian directors.
One of the films that I can now evaluate is Il generale della Rovere from 1959. This film makes me question what is it that defines art? Because when I compare it to other films by Rossellini, it is much less "overtly artistic", and far more of a traditional narrative. Certainly there can be traditional narratives that are great works of art, but what is it that gives them that special ingredient that rises to the level of art? I am not attempting to answer the question here, just raising it, but I think it has something to do with the high level of craftsmanship of the writer and director primarily, and then I would compare it to what makes great novels rise to the level of art, even when they are traditional narratives, such as Madame Bovary or The Red and the Black. There is a long history of artists reaching a level of communication and beauty in their artistry in every medium, and why should cinema be any different? But it is interesting when you watch a director who is usually more overtly artistic make a film that is a traditional mainstream narrative.
I think here Rossellini shows, to my surprise and confusion, that he can ably direct a normal studio film. I just kept wondering why he was doing it. (You can find the backstory on how he came to direct the film elsewhere.) The subject matter is certainly above average, and from what I've read, was breaking some new ground in terms of representations of World War II subject matter for Italian audiences. It almost rises to the level of art, but I think because Rossellini is so comfortable in a different type of filmmaking (looser in his earlier days, more experimentally minimalist in his later days), the film does not rise to the high level of art one expects, as if he can't quite reach those heights when taking an approach to the medium that is not in his blood.
It should not be a surprise that he can direct a traditional studio narrative, since he directed several before, including Dov'è la Libertà...? in 1954. And if The White Ship, from 1942, is any indication, he was as much of a studio-trained insider as any of the other Italian directors of his generation. (This is another reason I find myself asking, since he already does know how to direct a traditional studio picture, why he made this film.) As studio-type pictures go, I enjoyed Rossellini's Dov'è la Libertà...? more than Il generale. For characters heading towards the gallows, Chaplin's Monsieur Verdoux was far more moving. Chaplin from '47 is surely a far leap from an Italian film from '59, but certain parts where Verdoux is in his cell with his white hair and de Sica is in his cell with his white hair made it hard to suppress comparisons, despite the ridiculously different aims and subjects of the films! But they do both share what is intended as a powerfully moving ending in the same dramatic setting of a prison execution. Perhaps if I had not seen Verdoux, which I considered greatly moving, I would have been more moved by Il generale's ending. Il generale is also similar to other films that I had seen prior, such as Kurosawa's Kagemusha (1980), which was made later, but which I had seen first. (Credit to Isabella Rossellini for pointing out that connection in a video interview.)
I suppose by saying "less overtly artistic," I am comparing Il generale to Viaggio in Italia (1954) most of all. Unlike Godard, Rossellini doesn't call attention to the medium of film itself, so I think I was wrong when I said that earlier. But Viaggio in Italia has a very different feeling to it, one that dispenses with normal plot machinations in favor of the philosophical journey the characters are undergoing, and into which the inquisitive viewer gets deeply drawn and (hopefully) reciprocates with his or her own contemplation on the ideas presented and discussed by the characters. Il generale has entirely traditional plot machinations (not that Rossellini hasn't done this before more than once), but that doesn't mean I can just toss it away as worthless. What is it that can make it great cinema?
If it is reaching heights of poetry that make great cinema—even a dark poetry as is often the case with Rossellini—then Il generale is a lighter success than usual for him. Its ending is moving and perhaps poetic (or maybe one would just call it political or philosophical), but the ending of Germany Year Zero (1948) reaches a height that moves at least this viewer far more deeply. There's something about not fully understanding why a character does something (such as suicide to end that film) that begs to put it in the category of poetry, whereas a moving success of solid storytelling and performance seems to fit into a category more akin to that of great traditional literature or the dramatic arts. I think the difference is made when we fully understand the reasons for the character's heartbreaking demise all along, and we are gut-wrenchingly following them on their journey Those who are more artistically-minded instead tend to praise those films with a poetic angle, where things are only understood either through deeper contemplation, or from a realization of a non-literal reason, or a subtextual reason.
De Sica's own Umberto D. (1952)—let's categorize it as a traditional narrative—moves the viewer to tears with its bittersweet ending. But when a traditional narrative film is able to elicit an extreme height of emotion ,as Umberto does (sometimes this is subjective based on the viewer's state of mind upon entering the cinema), the intellectual/poetic viewer and the traditional narrative/dramatic emotional viewer may meet and enjoy the film at the same level. Perhaps the poetic-minded viewer feels the nuance of emotion has culminated to such a high level that it achieves poetry, and the dramatic emotional viewer is moved emotionally to the heights they demand in what they consider the greatest cinema. (There are probably stronger examples than Umberto D. but I'm blanking now in my haste to write.) But what if, even in Umberto D., there is something in the subtext that elicits that emotion from the poetic/intellectual viewer? I haven't seen it recently enough, so I wonder, because it is a slower film that I think allows time for contemplation of more subtextual issues than the normal traditional narrative film. Perhaps these two types of viewers are enthusiasts of the arts for different reasons, and never do meet. That might explain why some people can sit through the most horrible Hollywood weepy trash and think it is brilliant while others find it false and manipulative because there is no subtlety—only the overt contrived dramatic/emotional machinations draped over a paint-by-numbers traditional plot.
Back to this movie, one of the reasons Il generale della Rovere is worth watching and is an artistic success (if not a staggering one) is because of the very solid treatment of the lead character played by Vittorio de Sica. Both he, the writers, and the director have created a very compelling character, one whose progress we become deeply interested in, and whose transformation at the end is invigorating. We are so deeply pulled into this character's world and he is such a realistic concoction that our interest is completely captured. A comparison to Umberto D. in that regard is not unfounded. After this, I look forward to the drier experimental historical films of Rossellini (experimental in their matter-of-factness of presentation I have heard?) which luckily are also available on DVD, even if his other great works such as Viaggio in Italia, Paisan, Europa '51 and many others still aren't.

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